Sugestão de prendas de Natal: bilhetes para o Teatro Viriato e para o Trigo Limpo Teatro Acert

O que é preciso é não cair nos excessos consumistas que só favorecem as grandes marcas e os hipermercados que se aproveitam do nosso subsídio de Natal e, ainda por cima, abusam da nebulosidade da inflação. Ofereçam prendas inesquecíveis, como seja o acesso a objectos ou espectáculos artísticos. Há livros e discos, claro, mas porque não oferecer um bilhete para o teatro?

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  • 10:24 | Terça-feira, 20 de Dezembro de 2022
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Quase toda a gente gosta de dar e receber prendas nesta quadra. Mesmo quem não acredita no Menino Jesus, filho de Maria que “concebeu do espírito santo, sem cooperação viril”,  na versão do Papa São Martinho I que definiu como dogma, no primeiro concílio de Latrão, em 649 (!),  “a virgindade perpétua” desta mulher, subtraindo-a à condição humana, ao ponto de os “doutores da Igreja” terem chegado a discutir se a “mãe de deus” precisaria de dar de mamar ou até se teria necessidades fisiológicas; e também quem prefere a versão, mais poética, do menino Jesus de Fernando Pessoa, ventríloquo de Alberto Caeiro, segundo o qual o menino “Tinha fugido de céu” para voltar a ser menino, “chapinhar nas poças de água” e “correr atrás das raparigas” , porque “no céu tudo era falso” e “O seu pai era duas pessoas – / Um velho chamada José, que era carpinteiro,/E que não era pai dele;/ E o outro pai era uma pomba estúpida,/ a única pomba feia do mundo/Porque não era do mundo nem era pomba./E a sua mãe não tinha amado antes de o ter”).

Também não é preciso acreditar no Pai Natal, nome artístico de Nicolau de Mira, nascido na Ásia Menor, que foi bispo e santo, São Nicolau, até porque, apesar de ser padroeiro da Rússia, não me consta que a União Europeia tenha cancelado o voo das renas.

O que é preciso é não cair nos excessos consumistas que só favorecem as grandes marcas e os hipermercados que se aproveitam do nosso subsídio de Natal e, ainda por cima, abusam da nebulosidade da inflação. Ofereçam prendas inesquecíveis, como seja o acesso a objectos ou espectáculos artísticos. Há livros e discos, claro, mas porque não oferecer um bilhete para o teatro?


Deixo aqui algumas sugestões, a preços módicos:

Já esta terça-feira, dia 20, pelas 21 horas, o Viriato Teatro Municipal de Viseu será palco de mais um grande concerto da Gira Big Band que integra jovens músicos oriundos de bandas filarmónicas da região de Viseu, acompanhados pelo Colectivo Gira Sol Azul, dirigidos por João Martins, com o convidado especial Omar Lye-Fook, cantor, compositor e multi-instrumentista britânico (que cantou “Feeling You” em dueto com Stevie Wonder), integrado no ciclo de residências e concertos do  Que Jazz é Este? – Festival de Jazz de Viseu. Quem teve oportunidade de o ver e ouvir no parque Aquilino Ribeiro, na edição de 2017 do “Que festival “Que Jazz é Este?” não duvida que vai ser um concerto imperdível. Ainda por cima será uma prenda a um preço adequado a esta época de crise: 5 euros!

 

 

Ainda no Teatro Viriato, os maiores de 8 anos podem inscrever-se na oficina de ilusionismo (1º dia), malabarismo e criação de música, “Do Nada Nasce o Circo”, por David Valente e Zé Mágico, com curadoria de Erva Daninha, que decorrerá de 19 a 22 de Dezembro, limitada a 12 participantes. Preço único: 20 euros.

Para quem não gosta de desvendar as prendas antes do dia de Natal, a minha melhor sugestão vai para o mais belo espectáculo de teatro que me foi dado ver nos últimos tempos, a peça “Frida Kahlo – a filha da grande manhã”, pelo Trigo Limpo Teatro ACERT, que estreou a 16 de Novembro, com sala esgotada, com sessão extra, também praticamente esgotada, no dia seguinte, que regressará a Tondela nos dias 13 e 14 de Janeiro de 2023.

Trata-se de uma dramaturgia e adaptação livre a partir de “Frida e as Cores da Vida”, de Caroline Bernard, por José Rui Martins e Nuno Cash (escritor, jornalista, guionista e cantor, natural de Angola, que aos 9 anos veio, com os pais, para Tondela). Ambos comungaram da ideia de pôr em cena uma figura de mulher que representasse a força, a criatividade, a rebeldia,a liberdade, a coragem de viver “um apaixonado amor pela arte e pela vida”.

Ninguém mais do que Frida Kahlo protagonizou essa força, essa radicalidade de viver para além das convenções da época, incluindo as castradoras da sexualidade feminina, e a coragem de afrontar todas as adversidades que sofreu ao longo da vida, a começar pelo acidente de viação que lhe danificou a coluna e a pélvis, o que não só a impediu de ter filhos (viu frustradas todas as tentativas nesse sentido), como a remeteu, durante um ano, para a imobilidade do leito onde, com um cavalete especial montada por cima da cama, mandado fazer pela mãe (que, segundo ela,  tinha tanto de bondosa quanto de fanática religiosa), pintou, com os óleos e pincéis do pai (famoso fotógrafo artístico de profissão e pintor amador), alguns dos auto-retratos em que realça as sobrancelhas espessas a confluirem sobre o nariz, a sua característica mais iconográfica.

De destacar, de entre todo o fabuloso trabalho colectivo, mais uma genial encenação de José Rui Martins, a quem também se deve a engenhosa cenografia, a par do criativo Zétavares; as imaculadas  interpretações de Ariana Neves (que também tocou guitarra e cantou, por vezes em encantadores duetos polifónicos com a igualmente excelente Mariana Rebelo, ambas no papel de Frida); do não menos notável Rui Damasceno, no papel do corpulento Diego Rivera, pintor muralista, revolucionário e o maior amor de Frida; dos impecáveis Pedro Sousa e Sandra Santos que se desdobraram, com uma impressionante dinâmica,  em várias personagens. Sem esquecer os figurinos de Cláudia Ribeiro (em especial os coloridos trajes de Frida, inspirados na tradição mexicana) e o desenho de luz e som de Luís Viegas, Paulo Neto e Ricardo Leão.

Uma prenda inesquecível, a preços controlados, como é prática da ACERT: 7,50 euros para não sócios da ACERT, com descontos para maiores de 65 anos.

 

Boas Festas!

Carlos Vieira e Castro

 

 

(Foto DR)

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Publicado em Opinião