Ruas, o “Viseu-trotter” de Setembro

Esfarrapado está o discurso afirmando que se um país tivesse eleições anualmente os autarcas teriam que arrancar calçadas às terças para as recalcetar às quintas. Que as camadas de alcatrão sucessivas tornariam as bermas das estradas um perigoso precipício. Que as associações teriam que ir lestas comprar certificados de aforro, para rentabilizar os juros de tanto apoio…

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  • 16:14 | Domingo, 28 de Setembro de 2025
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Há uns anos, não sei já bem a que propósito, vi-me numa luxuosa moradia na Avenida da Boavista, no Porto, num “brunch” junto à olímpica piscina oferecido pelo proprietário a um candidato àquela autarquia e a alguns dos seus requintados e glamorosos apoiantes.

Nas suas breves palavras de agradecimento ao anfitrião e àqueles que lhe vinham dar alento, ouvi-o dizer: “Este mês já fiz mais de 400 quilómetros a pé pelas ruas desta cidade!”.

Pelos vistos foram insuficientes, pois não logrou alcançar a vitória.


Vem isto a propósito de ter visto algures a lista de eventos de Fernando Ruas e seus apoiantes para estes próximos dias…

São igrejas, associações, festas, romarias, calçadas, fontanários, passeios públicos, arruamentos, muros, grupos desportivos, empresas, comércios… enfim, um não acabar de um extensíssimo rol de visitas de última hora a todo o sítio e a todos quantos podem votar a 12 de Outubro. Nem falamos das peregrinações dos idosos à quinta da Malafaia, esse estupendo apoio social aos sufragistas da terceira idade…

Este frenesim é tanto mais inusitado quanto durante estes quatro anos de mandato, não foram muitas as vezes que se viu o autarca viseense fora da freguesia de Viseu,  no calcorreio das outras 24 freguesias. Mas claro, agora com o teletrabalho nem precisamos de sair de casa, quanto mais do cómodo gabinete da edilidade…

Não sendo as obras das freguesias de sua mais directa execução, sendo ele o “dono das massas”, este apoio repentino concedido aos responsáveis locais deve ser muito elogiado, apesar do empenho parecer ser, para alguns, temporalmente duvidoso e circunstancialmente oportunista. Ainda assim não lhe rouba o mérito, pois “vale mais tarde do que nunca”, segunda a voz sábia dos eleitores contemplados.

Coisas da política, das forças anímicas momentâneas, dos élans d’edis, da súbita necessidade de dizer: ”-– Eu estou aqui, e não vos esqueci!”.

Esfarrapado está o discurso afirmando que se um país tivesse eleições anualmente os autarcas teriam que arrancar calçadas às terças para as recalcetar às quintas. Que as camadas de alcatrão sucessivas tornariam as bermas das estradas um perigoso precipício. Que as associações teriam que ir lestas comprar certificados de aforro, para rentabilizar os juros de tanto apoio…

Felizmente que a área municipal de Viseu é 9,96 km2 contra os 41,42 kms2 da homóloga portuense. Daí que, por mera operação aritmética, Ruas e os seus apóstolos, comparado com o candidato acima citado, só terá que andarilhar a pé 96,185 km. O que, para um atleta de pé firme e perna rija, com umas cómodas sapatilhas, é razoável, pois durante um mês apenas dá 3,2 kms/dia.

Mas, a ter em conta o fracasso do seu tripeiro colega, eu multiplicava por cinco, a ver se ainda ia a tempo…

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Publicado em Opinião