Ruas, Gouveia & Almeida: Quanto vale afinal este pacote?

Fernando Ruas é hoje o candidato do Partido Social Democrata (PSD) a Viseu por causa da sua eterna vaidade. Fernando Ruas é hoje o candidato do Partido Social Democrata (PSD) a Viseu por não querer que ninguém lhe passasse a perna. Por nada mais.

Texto Pedro Morgado Fotografia Direitos Reservados (DR)

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  • 20:26 | Quarta-feira, 22 de Setembro de 2021
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Sou um parolo! Só isso pode explicar racionalmente o meu desencanto com a campanha para as eleições autárquicas em Viseu. De um lado Fernando Ruas apoiado pelo Partido Social Democrata (PSD), a mesma força política que governou Viseu ao longo dos últimos anos de má memória, e do outro João Azevedo e todos os outros candidatos que por uma unha negra podem não alcançar o número de votos suficientes para por um ponto final nesta história.

Toda a cidade o sabe. Um pouco por todo o lado, os acólitos do PSD multiplicaram-se como ervas daninhas, desde as instituições públicas, ao ensino público até às instituições privadas, e por lá ficaram. De lá “controlam” tudo. E andamos nisto há 32 anos. Conseguir um emprego na autarquia ou nas suas empresas satélite não é para todos. Ter um cartão de militante ajuda. Ajuda muito. Ajuda mesmo! Não é novidade para ninguém. Esta é a perceção de quem um dia por lá passou e viu os bastidores da “coisa”. Esta é a minha perceção.

Numa visita rápida a Viseu, percebe-se muito rapidamente o porquê destas eleições autárquicas terem que ser assim. Fernando Ruas é hoje o candidato do Partido Social Democrata (PSD) a Viseu, porque o partido não podia perder a cidade. Fernando Ruas é hoje o candidato do Partido Social Democrata (PSD) a Viseu por causa da sua eterna vaidade. Fernando Ruas é hoje o candidato do Partido Social Democrata (PSD) a Viseu por não querer que ninguém lhe passasse a perna. Por nada mais. É legítimo. O descontentamento crescente com os últimos anos de governação social democrata que vieram hipotecar algumas das opções futuras da cidade e a carteira dos munícipes pouco importam para esta equação.


A trágica morte de António Almeida Henriques é hoje um manto sagrado que serve para tapar muitas vezes a incompetência e os egos inflados de todo um executivo que vive mais da opinião publicada do que da realidade. Até Fernando Ruas o percebe pois nada diz sobre os últimos oito anos.

À boa maneira portuguesa até parece que se ausentou para umas férias e de lá regressou agora para retomar o lugar que é seu por direito. Repare na hipocrisia.

A “qualidade de Vida”

Durante estes oito anos, os viseenses não foram a lugar algum. Viveram nesta cidade com o lixo a transbordar nos caixotes, com as folhas a amarelar as calçadas, com maus cheiros, com obras de soleira (sempre inacabadas) a fechar ruas inteiras e com o mato a entrar-lhes pela janela. Andou “omisso” o camião do lixo. Foi assim que se viveu na melhor cidade para viver. Talvez os poucos que ainda habitam no interior da circunvalação não o tenham notado. Ali, para plantar uma flor, sempre existiram três jardineiros. Contudo, a cidade é um todo maior, bem maior do que isso.

É óbvio que para lá do Rossio, o anterior executivo não pode ter as costas largas. A culpa é também dos “regedores”, dos apreciadores de arte envergonhados que escondem algumas obras caras compradas com o erário público, os presidentes de junta que apoiaram a anterior governação autárquica, que sofregamente deitaram a mão às compensações autárquicas decorrentes da descentralização de competências e depois constataram que não sabiam, nem conseguiam, fazer o que deles era esperado.

Mas, uma coisa é certa. É hoje totalmente claro que o título que nos enche de orgulho (a mim inclusive), o título de melhor cidade para viver, é um tanto falacioso. Mas, só nós sabemos o quanto. A DECO não mora aqui.

A qualidade de “Bida” 2

Sosseguem, almas jubilosas! O galardão não está em causa. Viseu é o concelho em Portugal onde a habitação, o custo de vida e emprego e o mercado de trabalho são apontados como um exemplo para o resto do país. Assim o julgaram os quase 3500 portugueses que responderam ao inquérito da DECO sobre a qualidade de vida nas cidades. Curiosamente quase tantos como os habitantes da freguesia de Orgens que, por cá, cabem em pouco mais de nove quilómetros quadrados.

Nenhum concelho progride quando se nivela por baixo. Viseu é grande e nada melhor do que ouvir António Pais de Almeida (o nosso Guilherme), especialista em Marketing Territorial e número seis da lista de Fernando Ruas, explicar o porquê:

Uma lista de “Confiança”

Fernando Ruas voltou. A obra, a “piquena” rotunda, o centro de artes, a praia fluvial da Aguieira que gostaria de ter feito antes de deixar a presidência da Câmara de Viseu e alguns nomes graúdos como o Senhor Engenheiro João Paulo Gouveia e António Pais de Almeida, de sua completa graça António Guilherme de Jesus Pais de Almeida, estão de volta e fizeram da política viseense aquilo que ela é hoje: um nada.

É justamente este último aspeto que me preocupa. Viseu leva domingo a eleições dois experimentados autarcas: Fernando Ruas pelo PSD e João Azevedo pelo Partido Socialista (PS) com obra feita no concelho vizinho de Mangualde. Dificilmente nos próximos anos terá uma oportunidade como esta. Fernando Ruas, o “bom filho” que quer tornar a casa” olha com desdém para o seu desafiador. Do alto da sua grande experiência, do seu grande conhecimento da cidade, ninguém consegue pensar a cidade como ele a pensou. Contudo, os viseenses tiveram de conviver durante oito anos com as decisões erradas de um executivo PSD no qual participou, com grandes responsabilidades, o atual número dois de Fernando Ruas, o Senhor Engenheiro João Paulo Gouveia. E ainda cá estão! Então, qual é o drama?

Fernando Ruas tem atualmente 72 anos de idade. Ao contrário daqueles devotos que garantem que temos autarca para os próximos 12 anos, isso para mim é apenas mais um sinal de preocupação. Apesar de confiar em Fernando Ruas, não quero que o concelho caia na mão do Senhor Engenheiro. Não lhe reconheço obra nem qualquer outra qualidade política para gerir mais terra do que aquela que os seus olhos alcançam quando anda a podar a vinha.

O número dois que quase deu um secretário de Estado

João Paulo Gouveia, o Senhor Engenheiro, tomou posse a 22 de outubro de 2013 como vereador no primeiro governo municipal de Almeida Henriques. Por lá se mantem. É atualmente vice-presidente – graças ao arrufo que teve com Jorge Sobrado que catapultou Conceição Azevedo para a presidência da autarquia – com os pelouros das finanças, mobilidade, transportes, comunicações, freguesias e desenvolvimento rural, equipamento rural e urbano, energia, obras municipais, inovação, economia, empreendorismo, ciência e investimento. Uma verdadeira máquina.

É verdade que começou bem o seu primeiro mandato autárquico, marcado pela reunião agendada para as seis da manhã com os funcionários da recolha de lixo, mas daí para cá foi sempre a somar. A recolha de lixo foi o que se viu, o seu papel enquanto vogal do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados de Viseu (Águas de Viseu) – que em oito anos aumentou o preço da água três vezes até o tornar um aumento incomportável e pornográfico – deixou muito a desejar, a sua presidência na Associação de Desenvolvimento Local do Dão, Lafões e Alto Paiva (ADDLAP) – que durante anos se arrastou no fundo das tabelas na execução dos fundos comunitários – deixou marca e, não menos importante, o seu contributo para os transportes urbanos que temos – o único no país que não tem horários afixados e que talvez passe pela paragem em que nos encontramos ainda hoje – é notável. Como vemos o mérito não se esgota numa única área.

Viseu merece melhor. Rui Rio e o Partido Social Democrata (PSD) deviam ter vencido as eleições legislativas de 2019. A esta hora, o país teria um secretário de Estado da Agricultura empenhado e a cidade de Viseu estaria menos amarrada a caciques partidários que pouco querem saber das condições de vida das populações e das prioridades do concelho.

A obra e o alcatrão

Falar de autárquicas é sempre falar de obra. Esta campanha eleitoral não é exceção. Termina no próximo domingo um ciclo e, seja qual for o resultado, será sempre um adeus a uma política gasta e mentirosa. A obra feita conta-se pelos dedos das mãos (se não tivermos em linha de conta as obras de soleira como a protagonizada pelo regedor Diamantino que conseguiu inaugurar uma placa para assinalar o rebaixamento de quatro passadeiras). E, entretanto, passaram oito anos e a autarquia foi obrigada a recorrer ao crédito três vezes para que mesmo isto fosse possível. Será que as prioridades foram as certas? Às vezes a propaganda fica tão cara como a obra!

Trocava tudo o que foi feito, toda a propaganda, por um tapete de alcatrão novo na circunvalação e nos principais acessos à cidade. E o caro leitor?

No próximo domingo será esta a cidade que queremos? Serão estes os protagonistas que conhecem o rumo certo para a cidade? Duvido.

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Publicado em Opinião