Que falta de saúde para a Saúde no meu PS!

Sou militante do Partido Socialista, militante do SNS, e militante e profissional da Enfermagem. Sou de uma profissão que, pela sua natureza, será aquela que mais poderá fazer em defesa do Serviço Nacional de Saúde.

  • 13:56 | Sexta-feira, 15 de Maio de 2015
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O Partido Socialista organiza este sábado em Coimbra uma iniciativa nacional que intitulou “Defender o SNS – Promover a Saúde”, e enquadrada com o slogan “Alternativa de Confiança”. A primeira reação que me suscitou foi de estupefação.

Sou militante do PS e profissional de saúde, e estou convicto de que o meu partido pode ser na verdade uma “alternativa de confiança”, mas o que este evento indicia é que poderá vir a ser uma alternativa de quase o mesmo, porque ela espelha muito do que a generalidade dos cidadãos portugueses criticam na Saúde – os interesses instalados.

Uma boa parte dos oradores é de créditos públicos afirmados, como é o fundador do Serviço Nacional de Saúde, e também fundador do meu partido, o ilustre Dr. António Arnaut.


Questiono onde estão as representações das profissões da saúde nesse evento? Dos profissionais de saúde que diariamente “defendem o SNS e promovem a saúde”? Onde está a representação transversal? Desde a profissão socialmente mais prestigiada à profissão menos notada? Até àquelas profissões que representam o singelo “parafuso” que faz com que a complexa máquina que é o sistema de saúde consiga cumprir os sagrados direitos fundamentais de uma prestação universal e efetivamente igualitária?

Não estivéssemos nós em 2015, e não identificássemos os oradores do nosso tempo, poderíamos pensar que se tratava de uma realização do Portugal de há um século atrás, em que os médicos eram a profissão titular da saúde, e as restantes que havia eram meros ajudantes da sua glória e da ostentação no palco dos tratadores das enfermidades.

Este evento nacional “Defender o SNS – Promover a Saúde”, do meu partido, o partido da alternativa, padece de outra enfermidade grave, a ausência de cidadãos entre os oradores. É por eles que o SNS existe, e por eles que deve ser defendido. Ora, a quase totalidade dos oradores tem no SNS a fonte de generosos salários.

Sou militante do Partido Socialista, militante do SNS, e militante e profissional da Enfermagem. Sou de uma profissão que, pela sua natureza, será aquela que mais poderá fazer em defesa do Serviço Nacional de Saúde. O enfermeiro é o profissional que está 24 horas por dia, 365 dias por ano, e mais um nos bissextos, a cuidar do cidadão.

Mas, da Enfermagem foram chamados apenas dois oradores, ambos para integrar o mesmo painel – “Garantir o Acesso, Promover a Saúde”, o último da sessão, certamente com os presentes de antenas ligadas para a chegada do Secretário-Geral António Costa.

E nos restantes painéis? Os enfermeiros não integram uma profissão suscetível de contribuir para “Recuperar a Confiança no SNS”? Nem para participar na “Inovação e Criação de Valor em Saúde”?

Lamento, camaradas, mas esta não é a alternativa que os militantes e os portugueses esperam do Partido Socialista. Seguir esta linha é oferecer setas para exercícios de tiro ao alvo daqueles que diariamente querem o fim de um SNS universal e acessível igualitariamente a todos os portugueses.

O SNS é um sistema complexo onde não há profissões dominantes, nem mais importantes. Todas elas dão um contributo específico, em complementaridade, em prol de uma Saúde de mais qualidade, e financeiramente mais sustentável.

A “procissão ainda vai no adro”, mas já está a caminho. Se o meu Secretário-Geral quer ser líder de uma verdadeira alternativa, na Saúde tem de recorrer a melhores conselheiros, que representem todas as profissões da Saúde, e não apenas os médicos.

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Publicado em Opinião