Pró e contra

Os pais que menos se indignam com os conteúdos da disciplina de Cidadania são os que já cumpriram verdadeiramente o seu papel de educadores, e sabem que a escola apenas vai completar o que já ensinaram aos filhos.

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  • 16:38 | Segunda-feira, 11 de Agosto de 2025
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Os pais que antes andavam preocupados com os conteúdos da disciplina de Cidadania, vejo-os agora naturalmente satisfeitos com o expurgar de algumas temáticas, gratos por o governo vir ao seu encontro dos seus quereres. Iguais, na crítica de hoje e no aplauso de hoje. Intensos. Com a razão que julgam assistir-lhes.

Não tomo as dores de nenhuma das partes, pró e contra, por não estar suficientemente inteirado da dimensão do problema. E como gosto de estar sustentado em tudo o que escrevo, prefiro não entrar por caminhos que desconheço.

Porém, gostaria que os pais mais assanhados neste assunto, os mais acérrimos críticos da presença do tema da sexualidade nos currículos escolares, por os considerarem reserva da família, e sob o seu comando – como se fosse possível definir com exactidão o que é, e o que não é, exclusivamente de natureza familiar-, ou ainda por os ajuizarem temporãos, se preocupassem igualmente com outras questões, decisivas para uma sociedade saudável – mesmo que o saudável seja subjectivo, e dependente das modas.


Com os filhos presos às redes sociais, fechados no quarto, artistas no espaço digital, a dominarem as tecnologias, focados nos jogos, no Tik Tok e no Spotify, incapazes de socializar, a deitarem-se tarde, a horas impraticáveis.

Com os filhos que desaprenderam dizer o bom dia e o boa tarde, pedir licença ou desculpa, agradecer com um obrigado ou um bem-haja, dar preferência ou lugar a um idoso ou a uma grávida. Desconhecedores das regras básicas da boa educação.

Com os filhos que nos 12, 13 ou 14 anos, saem sozinhos à noite, ficam pelos bares, com conversas áridas e fúteis, fumam, bebem, regressam a casa fora de horas. E fazem sexo, sem protecção, engravidando as puras donzelas. Os filhos e as filhas que, às suas custas, sabem quase tudo sobre o manejo sexual, e acedem livremente aos canais pornográficos onde, sem orientação, nem filtros, aprendem o que não devem. E, à mesa, soltam asneira grossa, como se fosse linguagem vulgar, sem um castigo, porque aplicar uma sanção é sacrilégio, logo reprimida pelas CPCJ’s deste país, que, à falta do que se entreter, invadem a privacidade familiar, fiscalizando o que os manuais por onde estudaram chamam desvios, e impondo normas, sob pena de.

Estes sim, são assuntos que deviam merecer a atenção permanente dos pais, em casa. E quando isto estivesse assegurado, os progenitores teriam outra autoridade para reclamar e exigir do Estado.

Quando o não fazem, quando não cuidam do que é verdadeiramente sua responsabilidade, como se atrevem a tirar da escola o que não são capazes de proporcionar em casa?

Os pais que menos se indignam com os conteúdos da disciplina de Cidadania são os que já cumpriram verdadeiramente o seu papel de educadores, e sabem que a escola apenas vai completar o que já ensinaram aos filhos. É esta complementaridade que está a faltar.

A família tem mais em que pensar – emprego, turnos, carreira -, demitem-se das suas obrigações e a escola não pode fazer tudo. Fica então uma terra de ninguém, ao abandono, uma espécie de baldios cívicos de que ninguém quer saber.

Por isso, vemos tanta desregra nas escolas, que transvaza cá para fora. Um aluno não dá passagem a um professor, um professor não dá lugar a uma colega. Ninguém segura a porta a ninguém. Alunos e professores a fumarem à porta das escolas, tuteando num insalubre espaço comum, um mau exemplo que, quem pode, não trava.

Vivemos num deboche social, numa anarquia de mau viver. Depois, saem uns broncos. Por acção ou omissão, estamos a construir uma sociedade ao contrário.

Não há nenhuma comunidade que sobreviva, esquecendo um valor elementar: respeito. E esse, falta a rodos. Cansada da desbunda e do regabofe que para aí vai, ela vai explodir, só não se sabe quando.

Claro que há excepções, mas essas não se manifestam, estão confortáveis, fizeram há muito o trabalho de casa. Se não as houvesse, a panela de pressão já tinha rebentado. Devemos-lhe esse favor.

E quando chamamos favor ao que é dever e obrigação, está tudo dito sobre a sociedade em que vivemos.

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Publicado em Opinião