Na Assembleia Municipal de Viseu maioria de direita não condena Israel pelo genocídio em Gaza

 Agora que a fome como arma do genocídio está a vista de toda a gente, só um sionista “nazi” como o embaixador de Israel em Portugal, pode ter o desplante de dizer numa TV portuguesa que as crianças morrem não por estarem famintas, mas porque já sofriam de doenças ou que é tudo propaganda do Hamas. Espero que Fernando Ruas já se tenha arrependido de ter recebido este cúmplice do Genocídio juntamente com uma comitiva de empresários israelitas que querem montar em Viseu uma fábrica de armamento.

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  • 14:10 | Terça-feira, 12 de Agosto de 2025
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Eu sei, caro leitor, que há assuntos mais prementes para o nosso dia-a-dia. Desde logo, a famigerada “Agenda Trabalho XXI” com que o governo quer regredir nos direitos laborais (será tema de próxima crónica). Também vinha a propósito escrever sobre os fogos rurais e os incendiários eucaliptos (Portugal é o 4º país do Mundo com maior área de eucaliptal, a seguir à China, Brasil e Austrália) que continuam a consumir recursos do Estado e bens privados e colectivos, e sobre a “ebulição climática” para que nos alertava Guterres. Que outro nome podemos dar aos 40º.C  que há uma semana nos põe a escorrer suor de manhã à noite, mesmo sem grandes dispêndios de energia, matando idosos e até desportistas cinquentões como Jorge Costa, com paragens cardio-respiratórias?… As mortes por excesso de calor no trabalho aumentaram 42% na União Europeia, desde o ano 2000! Mas o governo de Montenegro que decidiu investir 2% do PIB na “Defesa”, mais de 5 mil milhões, chegando aos 13 mil milhões em 2029, não consegue investir mais do que 500 milhões por ano na prevenção e combate a incêndios, a nossa guerra anual. Tudo isto é grave e importa debater. Temos pouco tempo.

Quem não tem tempo nenhum são as crianças palestinianas a morrer à fome. E Gaza não me sai da cabeça. Quando me levanto, abro a janela e, para confirmar que estou vivo,  inspiro o ar matinal, observo a minha cidade e…imagino-a em ruínas, como as cidades, vilas e aldeias de Gaza  bombardeadas consecutivamente desde há quase três anos. Vejo uma ou outra criança a caminho da escola, e vem-me à memória os corpos amortalhados das 19.000 crianças assassinadas pelas bombas e balas do exército israelita, algumas delas quando estavam nas escolas. Quando vejo a minha vizinha a abraçar a filha, lembro-me das 4 mil crianças amputadas em Gaza, como aquela menina sem braços que perguntou: “Mãe, como é que agora te posso abraçar?…”. Quando me dói qualquer músculo ou osso do corpo recordo a imagem de um médico cirurgião a chorar, no exterior de um hospital em Gaza, por ter acabado de operar mais uma criança sem anestesia.

Quando  almoço e janto envergonha-me a “barriga cheia” de uma Europa cúmplice de um governo fascista e genocida que já matou à fome cerca de 200 palestinianos (quase 100 são crianças) e assassinou mais de mil pessoas que tentavam receber comida junto da chamada “Fundação Humanitária de Gaza”, criada pelos EUA e Israel, que, entretanto, impedem a entrada de milhares de camiões com comida, medicamentos e outra ajuda humanitária gerida pela ONU. A conceituada revista científica “The Lancet”, em Julho do ano passado, publicou um estudo que estimava que o número de mortos em Gaza pode chegar aos 186.000, devido a mortes indirectas, falta de alimentos e de cuidados de saúde. E a desnutrição deixará marcas irreversíveis nas crianças que sobreviverem.

Agora que a fome como arma do genocídio está a vista de toda a gente, só um sionista “nazi” como o embaixador de Israel em Portugal, pode ter o desplante de dizer numa TV portuguesa que as crianças morrem não por estarem famintas, mas porque já sofriam de doenças ou que é tudo propaganda do Hamas. Espero que Fernando Ruas já se tenha arrependido de ter recebido este cúmplice do Genocídio juntamente com uma comitiva de empresários israelitas que querem montar em Viseu uma fábrica de armamento.


“HITLER GANHOU EM GAZA!”

 Na última sessão da Assembleia Municipal de Viseu, Carolina Gomes, eleita pelo Bloco de Esquerda, apresentou uma moção a condenar os crimes de guerra cometidos por Israel e obteve 15 votos a favor, mas chumbou com 19 votos contra e 12 abstenções.

A eleita pelo Chega, mais uma vez, não compareceu, nem se fez substituir, desrespeitando de novo os seus eleitores (mas talvez estes não se importem já que toleram que no Parlamento haja 23 dos seus deputados que, segundo a CNN,  “já se cruzaram com a Justiça”). O líder da bancada do PSD, justificando o voto, acusou a moção do BE de não condenar igualmente o  Hamas. Como se um povo ocupado, colonizado, humilhado, segregado, preso, torturado e massacrado há 77 anos, ainda fosse culpado por resistir a um Estado opressor como o de Israel, mil vezes mais criminoso do que o Hamas.

Esta posição do PSD Viseu, além de contrastar com a promessa do governo de reconhecer em Setembro o Estado da Palestina,  ofende os viseenses e demais portugueses amantes da paz, incluindo muitos dos seus eleitores; ofende em primeiro lugar os palestinianos, mas também os milhares de cidadãos israelitas (até um ex-primeiro ministro, chefes dos Serviços Secretos e 3 ex-Chefes do Estado Maior) que se têm manifestado contra o genocídio; ofende muitos judeus que por todo o mundo, de Nova Iorque a Sidney, passando por Lisboa, juntam a sua voz aos milhões que estão contra a ocupação e colonização sionista que, após 77 anos de massacres, culmina na limpeza étnica e no Genocídio em curso na Faixa de Gaza, que já matou mais de 60.000 palestinianos (a maioria mulheres e crianças) e na Cisjordânia, onde já foram assassinadas quase mil palestinianos. Tudo isto depois de 7.10.2023, porque antes, desde 1937, os grupos armados sionistas, e desde 1948 o Estado de Israel, com a ocupação e posterior colonização da Palestina, tinham cometido mais de 20 massacres com cerca de 11.000 mortos palestinianos.

O ministro Israelita Anihai Ben-Eliyahu disse que “o exército deve encontrar formas mais dolorosas do que a morte para os civis em Gaza. Matá-los não é suficiente! (…) Gaza será completamente judia!” Outros dois ministros da extrema-direita israelita, Ben-Gvir e Smotrich,  foram declarados “persona non grata” pelo ministro dos Negócios Estrangeiros dos Países Baixos por apelarem à “limpeza étnica” da Palestina. Portugal espera que outros países tomem posição. E, beneficiando o infractor, faz eco da exigência de desmilitarização da resistência palestiniana, em vez da desmilitarização e acusação do Estado genocida de Israel. Rangel porta-se como um “Ministro dos Negócios DOS Estrangeiros”.

Até duas das maiores organizações israelitas de Direitos Humanos, a B’Tselem e PHRI – Médicos pelos Direitos Humanos, publicaram dois relatórios confirmando que Israel está a praticar Genocídio contra os palestinianos, juntando-se assim à acusação da Amnistia Internacional, da Human Rights Watch, dos Médicos Sem Fronteiras, da ONU e de dois tribunais internacionais.

Miriam Margolyes, britânica e australiana, atriz premiada, judia nascida em 1941 no auge do Holocausto, afirmou: “Hitler venceu em Gaza! Ele transformou-nos e pôs-nos a pensar como ele. E não posso tolerar que o meu povo faça o mesmo a um povo, a nação Palestina, que não foi responsável pelo Holocausto”.

 

6 DE AGOSTO 1945: BOMBA ATÓMICA ARRASA HIROSHIMA.

9 DE AGOSTO 1945: BOMBA ATÓMICA ARRASA NAGASAKI

 

Escrevo na semana em que faz 80 anos que os EUA lançaram duas bombas atómicas sobre o Japão, matando cerca de 250.000 pessoas. Toshiyuki Mimaki, um dos três sobreviventes das bombas que destruíram Hiroshima e Nagasaki que representam a organização que luta pelo fim das armas nucleares, Nihon Hidankyö, Prémio Nobel da Paz 2024: “Em Gaza, crianças sangram até morrer, nos braços dos seus pais. É como o Japão 80 anos atrás”. Hoje, assistimos às ameaças de Trump e Putin de usar armas nucleares, perante a passividade de uma Europa incapaz do mínimo esforço diplomático para a Paz na Ucrânia e cúmplice do genocídio em Gaza.

Estou a ler “Gaza Está em Toda a Parte”, de Alexandra Lucas Coelho, título certamente  inspirado na obra de Günther Anders, filósofo judeu (marido de Hannah Arendt), “Hiroshima Está em Toda a Parte”.

A historiadora e escritora israelita Fania Oz-Salzberger, filha do famoso escritor israelita Amós Oz, apelou há dias à deserção dos jovens soldados e dos reservistas israelitas, para não serem cúmplices de crimes de guerra e do Genocídio. São cada vez mais os “refuseniks” (cerca de 20%), jovens que se recusam a servir nas IDF – Forças de Defesa de Israel, mesmo sujeitando-se a ir para uma prisão militar.

 

Resistir ao fascismo, sempre, em toda a parte!

 

 

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