Portugal que empobrece

Terá herdado? O dinheiro virá da droga? A trabalhar ninguém ganha dinheiro! Sim, é verdade que o sucesso causa muita urticária e raramente é aplaudido pela família, vizinhos e comunidade. Caras amigas e amigos a inveja é um sentimento que não engrandece e, notem bem, até os “nossos” ricos são do mais pobres da Europa…  

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  • 8:54 | Quarta-feira, 22 de Junho de 2022
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Paulo Rosado, CEO da OutSystems, em entrevista ao Jornal Económico (17/06/2022), fez uma declaração curiosa: “Portugal tem os ricos mais pobres da Europa (…) e é o único país onde o sucesso é altamente penalizado.” Quem leu Os Lusíadas, lembrar-se-á da palavra que encerra a epopeia: «inveja». A história da inveja é muito antiga. Por estes dias, em conversa informal com um amigo, foi-me descrito mais um multimilionário que, como ele me dizia, “Quem o vê, parece um pobre de pedir. Até usa camisolas com borboto…”. Noutra altura, falou-me de uma outra figura «anónima» que anda a pé ou à boleia de amigos, mas… “Se tiveres o privilégio de visitar a garagem, cai-te o queixo com a coleção de clássicos!”. Terão estes senhores receio da inveja alheia? Temem ser roubados? Será apenas alguma mesquinhez intrínseca, em resultado de alguns resquícios do cinzentismo de outros tempos?  Serão apenas pessoas discretas que não gostam de ostentar?

Terá herdado? O dinheiro virá da droga? A trabalhar ninguém ganha dinheiro! Sim, é verdade que o sucesso causa muita urticária e raramente é aplaudido pela família, vizinhos e comunidade. Caras amigas e amigos a inveja é um sentimento que não engrandece e, notem bem, até os “nossos” ricos são do mais pobres da Europa…

Se os ricos, um grupo reduzido, são cada vez mais ricos e ocupam os últimos lugares da liga europeia das grandes fortunas, como viverão os pobres em Portugal?

O Expresso recolheu dados e relatos de instituições de todo o país, ao longo de um ano, que demonstram um “agravamento da pobreza que as estatísticas oficiais já não apanham. Mesmo as famílias que já voltaram ao trabalho continuam a ter de pedir ajuda para comer ou pagar contas.”


Na antecâmera das ressacas da pandemia e da guerra na Ucrânia, os pobres estão cada vez mais pobres. O aumento dos preços do cabaz básico, dos combustíveis e a previsível espiral das taxas de juro ameaçam os ténues equilíbrios orçamentais das famílias. Não será necessário consultar o Oráculo para antever tempos duros que poderão concorrer para a colocação de novas barreiras ao aumento da produtividade e da riqueza.

É difícil compreender como é que, neste contexto, a pandemia e a guerra continuam, se pode propor o aumento dos salários em 20% e idealizar a semana de trabalho de quatro dias. Em linha com os dados recolhidos pelo Expresso, em entrevista à Renascença e à Agência Ecclesia, o Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAP), padre Jardim Moreira, diz que a realidade da pobreza em Portugal “é bastante mais sombria. 43% seria o risco de pobreza em Portugal, se não houvesse apoios sociais.”

Vivemos momentos tensos na área da saúde. A Ministra está debaixo de fogo, também de algum fogo “amigo”. A complexidade do SNS é inquestionável. As soluções requerem investigação, planificação, gestão, coragem e arrojo político, pressupostos nem sempre conciliáveis com os ciclos políticos. A degradação do SNS prejudica especialmente os mais pobres que não beneficiam da ADSE e são incapazes de contratualizar um seguro de saúde.

Já temos uma Estratégia Nacional de Combate à Pobreza (ENCP). Quando será tornado publico o plano de ação e a estrutura para operacionalizar a ENCP? Exige-se ação para a erradicação da pobreza estrutural e intergeracional que afeta a vida de milhões de portuguesas e portugueses.

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Publicado em Opinião