Na Grécia chama-se portokáli. Na Turquia, portakal. Na Geórgia, portokhali. No Irão, porteghal. Nos países árabes, burtuqāl. Na Albânia, portokall. Na Roménia, portocală. E até nos Balcãs e no Cáucaso ecoa a mesma sonoridade. Em quase toda esta vasta região, da Europa Oriental ao Médio Oriente, o nome da laranja lembra um mesmo país: Portugal.
A história deste fruto é, na verdade, uma lição sobre a força discreta da cultura. Enquanto as caravelas regressavam de Goa ou de Cantão carregadas de especiarias e sedas, traziam também sementes e árvores que transformariam os mercados e os jardins europeus. Quando os gregos saboreavam o novo fruto, diziam que vinha do ocidente distante, e chamaram-lhe portokáli. O mesmo fizeram os turcos, os persas e os árabes. A palavra espalhou-se como um perfume de citrinos, levando consigo o eco de um nome que os ventos do comércio e da curiosidade tinham tornado universal.
Não foi uma conquista de espada nem de tratado, mas de sabor. O nome “Portugal” ficou gravado nas conversas das feiras, nos pregões dos vendedores, nos léxicos de línguas antigas. Dizer burtuqāl no Cairo ou portakal em Istambul é, ainda hoje, pronunciar Portugal com o sotaque do Oriente.
Esta herança linguística é um testemunho raro da memória viva das viagens portuguesas. Um país pequeno, de costas voltadas para o mar, deixou o seu nome espalhado por continentes não apenas em mapas, mas na doçura quotidiana de um fruto.
Talvez nenhuma glória seja mais serena e duradoura do que esta: ter dado nome à cor do sol e ao sabor do amanhecer.
Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor