Para o futuro do Desporto em Viseu

Viseu poderia pela dimensão e condições estruturais ser o polo aglutinador e dinamizador dessa dinâmica no desporto, mas em boa verdade se no tempo do vigor físico de Fernando Ruas ainda conheceu algum incremento, com a mudança para o executivo das festas e vinho, o ginásio, o Fontelo e a actividade física deixou de ser prioridade.

  • 12:19 | Segunda-feira, 20 de Julho de 2020
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A actividade física regular assume um papel relevante na promoção de um estilo de vida saudável e níveis elevados de actividade física durante a infância e juventude aumentam a probabilidade de uma participação similar quando adultos. No entanto, a realidade nacional tem revelado uma fraca aquisição de hábitos desportivos dos homens e mulheres portuguesas, sendo este quadro ainda mais preocupante no que se refere aos jovens, condicionando assim a qualidade de vida da nossa população.

Os hábitos de prática desportiva na sociedade portuguesa, quando comparados com outros países da Comunidade Europeia, são inferiores. E mais ainda quando olhamos o panorama desportivo no litoral comparado com o interior, onde Viseu se situa e excepção feita ao CF Tondela, verdadeiro fenómeno no futebol nacional, que contraria a norma também mais nenhuma outra modalidade se afirmou profissional e mediaticamente no País.

Viseu poderia pela dimensão e condições estruturais ser o polo aglutinador e dinamizador dessa dinâmica no desporto, mas em boa verdade se no tempo do vigor físico de Fernando Ruas ainda conheceu algum incremento, com a mudança para o executivo das festas e vinho, o ginásio, o Fontelo e a actividade física deixou de ser prioridade.


Recordo-me e honra lhe seja feita de que Joaquim Escada, professor de educação física e homem do andebol, ensaiou uma visão que se tivesse sido acompanhada pelas políticas municipais e pela vontade dos clubes, teria hoje, duas décadas depois, com toda a certeza produzido um modelo de sucesso e motor de promoção desportiva e turística do concelho. Ao tempo, defendia Escada que a cidade teria que ganhar dimensão, leia-se escalões e concentrar clubes, para que dessa forma a utilização dos recursos humanos e financeiros fossem potenciadores de um clube a nível nacional.

Dito de forma mais simples, o Académico sempre apostado nos séniores, o Gumirães nos iniciados, o Dínamo nos juniores, etc. subsidiados em função destes atletas federados não saem da cepa torta, ano após ano, porquanto não há continuidade no trabalho com os atletas, a logística dos campos fica mais difícil, a burocracia dos clubes mais pesada e os resultados sempre na tabela dos últimos a nível nacional.

Assim, se todos reunissem esforço, atletas e clubes com o apoio do técnico nacional Nikolai Boudorov num trabalho de base certamente que Viseu teria colocado no top nacional o Viseu Andebol Club e dessa forma todos os domingos passar nas TV´s, arrastar adeptos, famílias, patrocinadores, etc. conseguindo com isso mais empregos e melhor economia para a região.

O umbigo de uns quantos matou o sonho de Joaquim Escada. Ao lado em Tondela colocaram um clube na I Liga no futebol e Viseu apanha bolas!

O desporto na cidade estagnou, deixou-se enredar na política do subsídio, politizou-se de tal forma que chega a ser um teatro lusitano nalguns casos e afastou-se da sua essência: formar as crianças e jovens viseenses no espírito de Coubertin: Citius, Altius, Fortius.

Não é, contudo, necessário que se faça mais do mesmo e que se copiem a régua e esquadro modelos para aplicar no concelho quando a realidade, a geografia, a população, os recursos e as motivações são outras.

Defendo uma série de novas modalidades e construção de infraestruturas que potenciarão, salvo melhor opinião, a região. As ideias que defendo nessa matéria são muitas e não as esgotarei aqui, mas apenas aponto alguns exemplos do que poderá ser o relançar do desporto em Viseu para a nova década.

No futebol poderia aplicar-se o modelo de concentração de escalões ficando os campos existentes distribuídos por essas secções de um só clube, os iniciados e juvenis por exemplo no Repeses, os juniores no Lusitano, os séniores no Académico e a contribuição da autarquia seria tão só com a manutenção desses espaços. Assim talvez um dia pudéssemos ser saudáveis rivais do Tondela.

No Fontelo além da recuperação do circuito de manutenção (está em vergonhoso estado de abandono) a montagem de percursos de orientação preencherá as delícias de jovens e a descoberta da corrida aventura. Ainda no Fontelo, os escoteiros ou se apostam em transformar o espaço que lhes foi cedido num campo de lazer aventura com percursos de cordas, escalada, etc. ou entregam a chave a um privado que o queira explorar nesse âmbito. Os percursos aventura, caminhada poderão ser continuados para o Parque Santiago, Parque Aguieira, monte de Sta Luzia e Castro permitindo utilizações diversas, do atletismo puro ao BTT. No monte de Sta. Luzia a autarquia poderia apoiar a instalação de uma pista motocross e kart cross entregando à exploração a uma associação ou empresa da modalidade. Também a antiga carreira de tiro do Caçador, propriedade do MDN, mas hoje sem qualquer utilidade para o RI14 poderia ser entregue a uma associação ou empresa para instalação de uma área de paint ball. Na Aguieira estão prometidos ainda no tempo em que Ruas não precisava de pintar o bigode, o Clube de Rio, o Clube de Montanha (escalada e outras actividades), o Clube de Campo (Hipismo), as Piscinas, o Pavilhão Desportivo, a Ecopista, os Percursos Pedestres e um sem mais de actividades que por ali se podem instalar e ganhar projecção para que num trabalho continuado de aposta na formação dos jovens, selecção dos melhores e apoio nos estudos para garantir a fixação e desempenho máximo enquanto séniores possamos ter domingos diferentes onde os que ficam no sofá estão presos à emoção de ver o filho, o vizinho, o viseense ganhar!

 

É claro que se houvesse visão, como diria Bernardo de Chartres, se o anão andasse aos ombros de gigantes veria mais longe, além do investimento que agora está a ser realizado na academia do Futebol, no fundo mais do mesmo, Viseu poderia apostar-se no desporto de inclusão e temos no concelho e no distrito vários atletas de renome internacional criando o centro para o desporto paraolímpico, uma lacuna a nível nacional e onde a região poderia destacar-se, mas isso já será pedir de mais para quem só vê o imaterial, o foguete no ar e o Cubo Mágico na terra!

Também não é forçoso ao momento que se aposte já nas novas modalidades de eSport, o Segway Polo, o Drone Racing que hoje movimenta já milhares de jovens ou o Hoversurf porque teremos que esperar pelo Pavilhão do Gelo que o viseense Sec. de Estado do Desporto vai mandar construir em Lisboa mas ao invés de tanta festarola do marido da directora do Viseu Marca ou do elefante branco que se desenha já do Viseu Arena, melhor seria termos no espaço que nos rodeia os jovens a praticar desporto com qualidade. Serão eles os adultos do futuro. Pensem nisso!

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Publicado em Opinião