Pai não é claque do filho

Os pais que, numa fase embrionária da prática desportiva, se divertem com o jogo, rapidamente se transformam em "claque" do próprio filho e, por contágio, da equipa que ele representa nessa época. Muitos chegam mesmo a ter parecenças com os hooligans! Há males que têm de ser combatidos a partir da sua fase embrionária, como estes desvios comportamentais dos pais.  

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  • 21:27 | Quinta-feira, 11 de Maio de 2023
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No desporto de formação, os pais desempenham um papel de grande impacto no desempenho dos seus filhos, bem como da equipa em geral. A forma como fazem a sua participação é que vai fazer toda a diferença no percurso desportivo da criança e, mais tarde, do jovem.

A verdade é que o “estrelato”, em particular no futebol, se alcança entre os 11 e os 13 anos. Nestas idades, o facto de ser futebol de 7 e 9 proporciona, ainda, ao atleta um maior contacto com a bola, com o jogo e mais sucessos nas tomadas de decisões e execuções. Esta realidade esconde na maioria das vezes o processo, em detrimento do resultado.

Os pais que, numa fase embrionária da prática desportiva, se divertem com o jogo, rapidamente se transformam em “claque” do próprio filho e, por contágio, da equipa que ele representa nessa época. Muitos chegam mesmo a ter parecenças com os hooligans! Há males que têm de ser combatidos a partir da sua fase embrionária, como estes desvios comportamentais dos pais.


No desporto é logo na iniciação que se deve explicar aos pais que vão entrar numa atividade que vai exigir muito deles em termos de vida familiar e que as emoções vão estar muitas vezes presentes. Devem aprender a lidar com isso. Casa vez mais, os clubes têm de educar os pais quando os filhos iniciam a sua formação.

Os pais não conhecem o “edifício” da formação e, em alguns casos, é frequente terem as suas próprias motivações. Por isso, tentam induzir os seus filhos a praticarem um determinado desporto ou a atingirem determinados níveis de desempenho. É neste contexto que, muitas vezes, surge a “pressão parental”. 

Existem clubes que aceitam este tipo de comportamentos. Estas más práticas. Como é possível que se continue a pactuar com este clima em jogos de crianças e jovens?

O papel de pai ou mãe é esquecido, passando a ser o de um gerador ou facilitador de conflitos que pactua com o ambiente violento em que coloca o seu filho. Os pais vestem camisolas de fãs do seu filho! Insultam quem não apoia o seu filho! A obsessão pelo sucesso imediato do filho perverte por completo a forma como vivem a sua prática desportiva.

Os filhos observam atentamente o comportamento dos pais fora do campo, projetando para eles mesmos esse comportamento. Se um progenitor não respeita um treinador ou um árbitro, se reclama de uma decisão ou tem um comportamento menos adequado, é muito provável que o filho replique esse padrão da mesma forma.

O papel dos pais é de apoio emocional nas várias e diferentes etapas da formação e sempre fora do campo. E já é uma grande exigência.

Parabéns ao Instituto Português da Juventude e do Desporto, que lançou esta semana uma campanha #NãosejaBullydeBancada: “Episódios de violência levam à diminuição da segurança e prazer no desporto. Contamos consigo para a erradicação de comportamentos violentos.” Trata-se de um importante contributo para a erradicação de comportamentos desadequados, pouco éticos e, por vezes, violentos dos pais/encarregados de educação, no âmbito da prática desportiva nas camadas jovens.

Pais, por favor, sentem-se, relaxem, deixem os vossos filhos brincarem, deixem os treinadores treinarem e os árbitros arbitrarem. Desfrutem do momento. Desfrutem do desporto. E deixem que os vossos filhos desfrutem também.

 

Ilustração de Paulo Medeiros

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Publicado em Opinião