Os treze que vêm a seguir ao Costismo

O PS joga em vários campos e, naturalmente, haverá o envolvimento de ecossocialistas moderados e sociais liberais, passando pelos democratas radicais e pelos sociais democratas. A sucessão, entre front office e back office, vai passar por este grupo alargado de treze pessoas e que se indicam por ordem alfabética.

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  • 8:48 | Segunda-feira, 26 de Junho de 2023
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Mário Soares foi o único exemplo, na política portuguesa, a manter-se como líder de um grande partido depois de ter sido primeiro-ministro e ter perdido as eleições seguintes. Anos mais tarde voltou à função e, posteriormente, foi Presidente da República.

O tempo que vivemos não autoriza a que um líder partidário, que tenha sido também chefe de um Governo, se mantenha. Sairá para outras funções e outra vida.

Em 2026, António Costa será o líder do PS que mais tempo terá ocupado o lugar reservado no Palacete de São Bento. Um período extraordinário, um legado que o país reservará na sua História. Costa também terá de cuidar do que vão dizer dele, de como o vão recordar no nevoeiro do tempo. Mas essa abordagem não é para hoje.

Quando se olha para os partidos da oposição, só se consegue ver uma mediana condição de exercício, uma espécie de obreirismo melhor ou pior vestido. É uma pena! Mas é por isso que o PS tem de estar à altura para continuar a ser a grande força transformadora da sociedade, quem melhor preparado deve estar para libertar as novas gerações que nos obrigarão a deixar, de vez, o salazarismo que ainda está nas nossas cabeças.


Antecipam-se já as diversas possibilidades para a liderança pós 2026. Importa ver, pois, muito para além dos que podem ser prováveis candidatos a líder, interessa analisar quem terá possibilidade de participar determinantemente nessa decisão. Cada um dos dirigentes socialistas que a seguir se analisam, mais olhados internamente ou mais respeitados externamente, fornece experiência, erros e acertos, sustentação ideológica, cultura, liderança de massas ou de equipas.

O PS joga em vários campos e, naturalmente, haverá o envolvimento de ecossocialistas moderados e sociais liberais, passando pelos democratas radicais e pelos sociais democratas. A sucessão, entre front office e back office, vai passar por este grupo alargado de treze pessoas e que se indicam por ordem alfabética.

Álvaro Beleza (social liberal) – começar pelo Álvaro pode levar a que os leitores esbocem um sorriso, mas este social liberal já foi candidato a secretário-geral do PS e teve mais eleitos para a Comissão Nacional do que João Soares num congresso posterior. Por que razão o incluo no jogo da sucessão? Neste ensaio não estão só os candidatos a líder, estão também os determinantes.

Beleza é hoje presidente do partido do bloco central. A SEDES reúne um vastíssimo conjunto de quadros, em todas as áreas da política portuguesa, que permite identificar outras pessoas para a renovação que importa concretizar. Mais do que Costa, neste momento, Beleza tem soluções para os lugares de ministro e de secretário de Estado, porque a Costa só aparecem os melancia e os yes minister, circunstância que é naturalíssima depois de tanto tempo de Governo. Beleza joga, portanto, no campeonato dos determinantes, é decisivo para qualquer líder seguinte.

Ana Catarina Mendes (democrata radical) – Ana Catarina tem uma vasta carreira dentro da JS e do PS. Foi tudo até chegar a Secretário-Geral Adjunta. Quem trilha este caminho também tem pernas para chegar ao posto seguinte.

É uma das dirigentes mais queridas do PS, tem proximidade e tem largueza de ombros, sabe quando deve aparecer e quando se deve afastar, faz isso melhor do que Jaime Gama em tempos passados.

Não lhe falta capacidade discursiva, mesmo que esta seja muito centrada, quase sempre, numa trilogia de ideias simples, com uma moderação frásica e uma melodia que por vezes dão a sensação de falta de alma. Mas isso melhora-se.

O que falta a Mendes é uma pasta de peso no Governo, provar que sabe fazer para além da gestão de pequenas coisas. Falta-lhe, ainda, perder, falta-lhe ter deceções. Mas vai ter um desafio próximo – liderar a lista para o Parlamento Europeu no próximo ano.

António José Seguro (social democrata) – O costismo cometeu um erro terrível ao afastá-lo sem piedade. O PS não é de cada um dos líderes, é dos seus militantes e, principalmente da sua História. Seguro também cometeu o erro de não demonstrar que a derrota frente a Costa foi uma circunstância normal da política.

Não se pode aceitar que Seguro, ex-Secretário-Geral, estando vivo e de boa saúde, não tenha estado nas comemorações dos 50 anos do PS.

Mas há um partido que age como Seguro, pensa como Seguro, segue Seguro. Valerá, neste momento um quarto dos militantes? Penso que valerá mais!

Seguro voltará à vida ativa, é inevitável. Seja quem for o líder, a História tem de ser respeitada. E terá um lugar medial, de liderança de projetos ou de figura referência.

Carlos César (socialista republicano) – o Presidente César será a figura mais importante na sucessão. Não que se ache que ele quer ser líder do PS, mas continuará a ser Presidente seja com quem for. Depois de Almeida Santos, ele será o Presidente com mais poder, a que somará o poder que tinha o eterno Jorge Coelho, o da influência exterior.

César tem relações cordiais com todos. E tem autoridade, mesmo que cochichem nas suas costas. É uma decorrência de alguém que caminha sempre com grandeza, uma herança histórica que os políticos açorianos sempre comportam. Gama, Medeiros Ferreira, Mário Mesquita e muitos outros, são exemplo disso.

No dia em que se colocar a questão de se saber quem vai a jogo, César será o ponto da ponderação, da garantia da liberdade interna e da responsabilidade.

Duarte Cordeiro (ecossocialista moderado) – Cordeiro é hoje um líder diferente. Marcado pelas sovas que os casinhos lhe têm trazido, robustecido pelo exigente cargo de general da ação climática e do combate à desertificação, ele é sempre dado como um número dois.

É um erro pensar que será um número dois, ele pode ser um número um ex aequo porque terá sempre o poder da máquina, porque determinará os poderes internos de forma decisiva.

Mas Cordeiro será o “dono” da estrutura com todas as aptidões para ser o líder seguinte, como aconteceu com Guterres, e isso é nítido na forma como os militantes o veem.

Diria que a Cordeiro só falta mais cuidado com o discurso, mais organização nas ideias, mais distância das discussões da cozinha.

Fernando Medina (social democrata) – Quando havia pouca gente a escrever que Medina era um grande quadro político, um economista preparado, um líder de equipas criterioso (apesar de em algumas circunstâncias avaliar mal algumas escolhas), eu fazia-o.

Sabia que a derrota nas eleições para a Câmara de Lisboa não tinha desqualificado a sua pessoa, que os condimentos estavam lá.

Porém, sempre disse que Medina não liga nenhuma ao aparelho e não há função política interna, em país nenhum do mundo, sem se conseguir ter o mínimo de empatia com os militantes.

Os jornais dizem que Medina pode ser um sucessor. Claro que pode! Constâncio também foi, Sampaio e Ferro também, todos com o respeito dos militantes, mas sem a tal empatia que faz os movimentos ganhadores.

O que será mais provável é que Pedro Nuno e Medina se entendam como Sócrates e Costa se entenderam na década de 1990. Seria muito bom que isso acontecesse!

Francisco Assis (social democrata) – Assis é o melhor político do PS. Quando falo em político falo em quadro político, em representação do que foi o PS e do que pode ser o PS enquanto projeto de transformação da sociedade.

Assis passou os cinco primeiros anos do consulado de Costa muito sozinho, mas nunca se deixou vencer pelos feitos, pouco marcantes a prazo, da Geringonça. E é por isso que ele deve ser incluído nos nomes do futuro. Pode ser secretário-geral, pode ser líder parlamentar, pode até ser primeiro-ministro ou presidente do Parlamento.

Durante muito tempo, dizia-se que Assis não conseguia sentar-se para fazer funcionar uma equipa. Sempre foi errada essa avaliação, ele tinha sido um bom alcaide. Mas a prestigiosa função de presidente do Conselho Económico e Social eliminou essa ladainha.

César, Seguro e Assis são os nossos senadores, são aqueles que o PS manterá ainda no ativo para o futuro, continuadores do passado das décadas de 1970, 1980 e 1990.

José Luis Carneiro (social liberal) – o atual responsável pela segurança do país demonstrou que o outro país, o terrado de onde saem as torgas, também dá bons frutos. Carneiro continua a ser uma figura respeitada nos autarcas, poderoso nas federações do Porto e Braga, próximo dos militantes pela decorrência da sua função de ex-Secretário-Geral Adjunto.

É claro que Carneiro tem descuidado o território que gosta de políticos mais elaborados, tem dado pouca atenção à correção da linguagem, coisa que Cavaco fez ainda em 1985; tem ido pouco além do trabalho que o posto ministerial lhe dá. Mas nada lhe está limitado se a escolha só vier em 2026.

O que Carneiro não pode continuar a fazer é ter medo da sua sombra e de algumas outras sombras, mas isso corrige-se. Também não tem, por si, um grupo de kamikazes, como acontece com alguns dos nomes que já analisei.

 

 

Luísa Salgueiro (democrata radical) – muitos acharão uma improbabilidade que o nome da atual presidente da Associação Nacional de Municípios possa vir a incluir os nomes dos determinantes, mas fazem uma análise pouco elaborada.

Salgueiro é a mais inovadora autarca do país. Mas também é a que mais se afirmou no conjunto dos poderes locais e regionais da Europa e aquela que mais tem sido solicitada para a referenciação do papel dos poderes subnacionais nas transições digital e energética.

De Matosinhos, uma câmara que é hoje a mais bem administrada sob o ponto de vista das inovações burocráticas, Salgueiro consegue ter máquina e ter estatuto.

Para além disso, foi deputada, tem uma rede para além dos autarcas, coisas essenciais para marcar uma candidatura à liderança. Com características diferentes, Luísa tem um papel semelhante ao de Cordeiro vinda de outro campo – um da Jota e outro das autarquias.

Marcos Perestrello (social liberal) – se há um político com potencial e que não o utiliza é mesmo Perestrello. Mas ele reúne em si um conjunto de características que poderiam fazê-lo determinante. A primeira, é o conhecimento profundo do partido, uma vez que Lisboa foi o seu palco enquanto líder da decisiva Federação da Área Urbana de Lisboa (PS FAUL); a segunda é a sua capacidade para entrar em territórios onde em tempos Guterres também entrou e que são os escritórios de advogados, os quadros das grandes empresas, os académicos.

Marcos tem, também, permissão para navegar em universos da soberania que poucos no PS, depois de Gama, conseguiram ter.

Mas os seus escritos nos jornais e a sua presença na televisão têm pouca garra, pouco risco, pouca dinâmica. A sua distância aos deputados mais territoriais também não faz com que granjeie o campo das cebolas e das couves, coisa importantíssima como Capoulas, que é muito parecido com Marcos no pensamento e posicionamento, lhe poderia dizer. Mesmo assim, do alto da sua posição aristocrática dos Lorena, será sempre mais do que uma segunda figura.

Mariana Vieira da Silva (democrata radical) – não desgraduem nem menorizem Mariana. A número dois do Governo tem saber político, tem fundamentais de natureza ideológica, tem um caminho bem marcado. E mais, Mariana não é o ar cândido que aparece todas as quintas-feiras nas televisões, ela tem Maquiavel lido de trás para a frente, tem ferramentas de gestão de interesses que só quatro dos que aqui se referem possuem.

Mariana vai jogar as cartas com Medina para ser a próxima Comissária Europeia a partir de 2026. Qualquer um dos dois será uma excelente escolha. Mas se vier a exercer essa função vai ganhar uma outra dimensão, vai aportar para si um vasto conjunto de atributos.

António Vitorino foi o Comissário Europeu que mais trabalhou a política nacional. Quanto deixou Bruxelas tinha um prestígio único no país, tudo porque soube escolher os campos para manter os links do poder.

É por isso que Mariana é, vai ser, importante no PS. Quem a quiser menosprezar pelo facto de ser muitas vezes tímida com as massas, faz muito mal.

Pedro Nuno Santos (ecossocialista moderado) – depois de Soares e de Sócrates, cada um no seu tempo de liderança do PS, Pedro Nuno é o terceiro grande político das massas. Ele é coragem, sempre!

Eu vi o pedronunismo nascer. Também estive naquele momento em que, pela primeira vez, Ana Sá Lopes o escreveu no jornal i, acompanho o percurso do mais “irritante” político da última década.

Determinado, estudioso, intuitivo, sustentado. Pedro Nuno só ainda se mantinha um pouco recuado no que dizia respeito ao papel do Estado na economia, mas isso foi há quatro anos.

Quem é o mais que provável líder do PS depois de Costa? É aquele que nunca negou que queria ser. Nesta ambição é o mais parecido com Seguro, também ele nunca negou essa ambição.

Os militantes ficaram de pé atrás com a questão TAP. Passados seis meses, os mesmos militantes voltaram a ter os olhos brilhantes com as suas convicções e com as suas intervenções. Se neste grupo de socialistas há um que tem quase tudo para ser líder, é ele; se há no partido alguém que só depende de si, para ter um posto mais importante do que a liderança do PS, é também ele.

Pedro Nuno sabe que o frentismo nunca fez primeiros-ministros. Somos o país que somos, o norte não vai nisso e a prova de que isso é assim é a forma moderada que as centenas de presidentes de câmara praticam para mancharem o retângulo de rosa.

Rosa é mesmo a cor, a conformação da liberdade a caminho da igualdade de oportunidades e não o contrário.

Sérgio Sousa Pinto (social liberal) – o Sérgio é a continuação de Mário Soares? Em certa medida sim! A verdade é que a convivência de Sousa Pinto com o fundador do PS, o que escreveram juntos, o que pensaram juntos, faz deste antigo líder da JS um repositório de história.

Sousa Pinto é um grande político. É corajoso, é preparado e… é pouco flexível e elitista. As primeiras duas características fazem dele um comentador ouvido interna e externamente, autorizam a que seja um grande e imaginativo orador, levam a que, por essa via, seja um dirigente a ter em conta no futuro.

Poderá Sérgio ser um candidato à liderança? Tenho dúvidas que seja isso que ambiciona, mas não deixa de ser um determinante para uma escolha, um nome a garantir para que a política e os debates seguintes não sejam uma risca ao meio na parada de um quartel.

Eu até proporia que, fosse qual fosse o próximo líder, se lhe entregasse a inevitável revisão da Declaração de Princípios carecente, como está, de uma nova visão de país e de mundo.

Estão aqui treze militantes que serão essenciais para o futuro. E se todos estivessem no Secretariado Nacional desse novo tempo?

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