Oeiras, a terra onde Pombal pensou Portugal

Oeiras é, para mim, mais do que um espaço geográfico ou um centro económico. É o símbolo vivo do Portugal que Pombal imaginou: um país que se reinventa com coragem, que honra a sua história e que constrói o seu futuro com a serenidade e a profundidade da sua cultura.

Tópico(s) Artigo

  • 15:35 | Sexta-feira, 27 de Junho de 2025
  • Ler em 2 minutos

Cresci em Oeiras, e essa vivência marcou-me profundamente, moldando não apenas o meu olhar, mas também o meu sentido de pertença e identidade. Oeiras não é apenas um território no mapa nacional; é uma confluência de memórias, de histórias vivas que nos recordam o percurso de uma nação que se reinventou a si mesma. É neste chão que o Marquês de Pombal, figura ímpar do século XVIII, concebeu e lançou as bases de um Portugal moderno, resiliente e ambicioso.

A fábrica da pólvora de Oeiras, uma das mais relevantes unidades industriais do século XVIII, teve um papel decisivo na garantia da autonomia militar do país. Num período marcado por desafios externos e internos, Pombal procurou assegurar que Portugal pudesse produzir localmente um dos seus recursos estratégicos essenciais, reduzindo dependências e fortalecendo a capacidade defensiva do Estado.

Em paralelo, a Quinta Agronómica permanece um legado vivo dessa visão iluminada. Não se tratava apenas de cultivar a terra, mas de semear conhecimento, de experimentar a ciência agrícola como instrumento de progresso social e económico. Pombal compreendeu que a modernização rural seria pilar imprescindível para o futuro de Portugal.


Entre as suas tradições mais duradouras, destaca-se o vinho de Carcavelos. Talvez subestimado, este vinho fortificado que nasce nas terras de Oeiras é, na verdade, o embrião do vinho do Porto, precursor das técnicas e prestígio que projetaram o nosso país no mapa mundial dos vinhos de excelência. Que se mantenha, sob a égide da Câmara Municipal, este património tão singular, pois ele é elo vivo entre o passado e o presente.

Outro testemunho da atenção pombalina à infraestrutura local são os chafarizes que ainda hoje se podem contemplar ao longo da Avenida Marginal. Estes não são meros pontos de água; são verdadeiras obras de arte, com magníficos trabalhos de azulejaria que embelezam o espaço público e revelam a preocupação com a funcionalidade aliada à estética urbana, um reflexo do cuidado com que se pensou o bem-estar das populações e a modernização da paisagem.

Não menos importante é a Real Quinta de Caxias, cuja história e importância são inseparáveis da narrativa pombalina. Esta quinta representa o esforço pela valorização do território e pelo desenvolvimento agrícola sustentável, continuando a ser um marco da identidade local e um testemunho vivo das práticas e ambições do século XVIII.

Para quem conhece Oeiras, é igualmente fascinante saber que se conservam vários quadros pessoais do Marquês de Pombal, que nos permitem espreitar o homem para além do estadista. Esses retratos são uma janela para a sua determinação, para o seu olhar perscrutador e, acima de tudo, para o lado mais humano do estadista que mudou Portugal.

Oeiras é, para mim, mais do que um espaço geográfico ou um centro económico. É o símbolo vivo do Portugal que Pombal imaginou: um país que se reinventa com coragem, que honra a sua história e que constrói o seu futuro com a serenidade e a profundidade da sua cultura.

 

Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor

Gosto do artigo
Palavras-chave
Publicado por