Erguido sobre o vale fértil do Mondego, o castelo de Montemor-o-Velho guarda uma singularidade que o distingue de todas as fortalezas portuguesas. A sua muralha desenha um traçado quase circular, uma forma rara e quase mágica na arquitetura militar medieval. Nenhum outro castelo em Portugal se aproxima deste desenho de perfeição, onde a pedra parece seguir o movimento do vento e da colina.
Mais tarde, vieram os reis cristãos. Reforçaram as torres, altearam as ameias, ergueram templos dentro das muralhas. Mas não tocaram na forma essencial que já existia. Talvez tivessem compreendido que havia naquela geometria uma inteligência antiga, uma sabedoria que o tempo não conseguiu apagar.
Hoje, quem percorre o alto das muralhas sente o eco dos séculos. A paisagem estende-se até onde o olhar alcança, o Mondego corre lá em baixo com o mesmo ritmo que viu passar reis, cavaleiros e invasores. O castelo mantém-se firme, redondo, completo, como se o tempo girasse em torno dele.
Montemor-o-Velho é mais do que uma fortificação. É uma lição de continuidade e de beleza, um manifesto silencioso sobre o engenho das civilizações que o construíram e o respeitaram. O único castelo de muralha redonda em Portugal recorda-nos que até a guerra, quando desenhada com arte, pode deixar marcas de perfeição.
Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor