Independentemente de qualquer questão partidária, a postura pessoal do primeiro-ministro de Portugal tem sido alvo das mais ferinas e justas críticas pela atitude que assumiu e assume face a um país a ser inexoravelmente destruído pelas chamas.
Perante o sofrimento, a angústia, o pânico e as perdas de milhares de concidadãos – que provavelmente lhe deram a confiança do voto – Luís Montenegro veraneia pelo Algarve, é herói da festa do Pontão onde, rodeado de acólitos e de “tias” se regozija com a ampla magnitude das obras que o seu governo tem feito (?) na área laboral, da saúde, da imigração, da educação, da administração interna, da defesa, etc. e tal.
Os incêndios que deflagraram nos concelhos de Trancoso, Sátão, Aguiar da Beira, Mangualde, Arganil, Covilhã, Oliveira do Hospital e muitos mais, os fogos que fizeram um inferno sáfaro de milhares de hectares, que destruíram a fauna e a flora de um território, que levaram os haveres de uma sacrificada, esforçada e penosa vida de labuta de milhares de portugueses não foram capazes de o demover a ausentar-se do festivo e cálido ambiente para mostrar solidariedade e empatia com o povo que o elegeu. O mínimo…
Mais ainda, com aquele ar chocarreiro e autocrático, no deslumbramento do posso quero e mando, acolitado por um presidente da República em fim de mandato, do qual sairá pela porta traseira e sem deixar saudades a ninguém, Montenegro mostrou uma faceta arrogante, ausente e desprendida da realidade do sofrido país. Quando por fim acedeu, relutante, a dizer umas palavras, o discurso que o departamento de comunicação lhe preparou, falando de guerras a meio e de guerras no fim, foi um exercício de retórica medíocre pior do que cuspir na sopa.
Fica-nos a má lição e a memória dessa atitude. De um governante arrogante que até ao dia de hoje se recusou a pedir auxílio à Europa que integramos. Fica-nos a imagem de um primeiro-ministro que se regozija, a banhos com a sua corte de serviçais, alheado da mais dura das realidades que assola um país a arder e um povo a sofrer.
Os seus leais “impedidos” engasgam-se, tartamudos a falar em demagogia, em populismo, na manipulação da comunicação social… coitados, compreende-se, precisam de justificar a gamela em que se cevam, mas se fizermos uma rápida visita às redes sociais que dão voz ao povo anónimo, lemos os desabafos de dor e de chorado sofrimento de milhares de vítimas e vemos as imagens das perdas das suas casas, dos seus carros, dos seus animais, dos seus teres…
Serão também perigosos demagogos os que choram, suplicam por um auxílio que não vem, se descabelam perante o inferno que lhes lavra e leva o quintal e a casa, a horta e a leira, a laje e o canastro, que das aldeias prósperas e alegres faz soturnos infernos onde tudo se perde, a dor subsiste e o ânimo se esfuma em faúlhas e cinzas.