O resineiro

Politicamente, o Ventura, que faz cenas desta índole, é um bimbo, capataz da bimbalhada, moço de fretes de Abascal, Le Pen, Meloni, Farage e Wilders, recruta alocado às questões da intendência extremista europeia. Uma excrescência, de mãos sujas. Um tumor.

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  • 12:59 | Segunda-feira, 01 de Setembro de 2025
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Se fosse possível prever com algum grau de certeza o futuro próximo, diria que o pior já passou. Retenho deste tempo anormalmente escaldante duas notas políticas.

O irrequieto Ventura continua no caminho do populismo descarado, com a maior desfaçatez e sem um pingo de vergonha. Vê-lo no meio da mata, como um resineiro, num esforço desenfreado a tentar apagar as chamas com um inocente ramo de giestas na mão, foi um espectáculo degradante. Aturdido com as fonas, magoado com o ar irrespirável, foi sol de pouca dura. A publicidade ao momento de glória foi miserável. O aproveitamento político de momentos aflitivos nunca foi tão baixo. Foi uma absoluta palhaçada.

Para captar votos, o deputado não olha a meios, mesmo os mais disparatados. Numa trajectória que lhe tem dados resultados nas urnas, continua um oportunista, até nas situações mais penosas. Observá-lo a pegar em paletes de garrafas de água, num ingente auxílio aos bombeiros – um instante imortal, que ficará na galeria dos parolos “heróis” de areia – foi patético. Independentemente dos votos que o gesto terá arrecadado – nunca se saberá -, a atitude não deixou de ser leviana e insensata.

O resultado prático foi zero, e só serviu para promover a sua imagem, obcecado que anda com o culto da personalidade, tentando imitar o argonauta Trump e o anafado Milei, duas criaturas azedas e repugnantes. Ventura, um egocêntrico, ter-se-á convencido, a si e aos seus seguidores, lambuzados num espasmo de serventia, mas não foi responsável, nem inspirou confiança.


Quem anda emboscado, à cata de uma oportunidade para aparecer, bronzeado e luzidio, não merece conversa. Um político assim, que não conhece limites e princípios, não tem créditos, nem é confiável. Tudo, até a desgraça, lhe serve para aparecer e dizer umas asneirolas e banalidades.

Politicamente, o Ventura, que faz cenas desta índole, é um bimbo, capataz da bimbalhada, moço de fretes de Abascal, Le Pen, Meloni, Farage e Wilders, recruta alocado às questões da intendência extremista europeia. Uma excrescência, de mãos sujas. Um tumor.

Quem se senta no Conselho de Estado, independentemente das ideologias que professa e das bandeiras que agita, deveria ter um perfil de contenção e sobriedade, qualidades que não encaixam em Ventura, palavras que não integram o seu dicionário político. Sobre este tema, André devia dar-se ao respeito, para ser respeitado.

Não é que a presença acrescentasse, ou melhorasse, antes pelo contrário, mas as férias no Algarve foram inoportunas. A divulgação de fotografias de Luís Montenegro a banhos nas águas mediterrânicas, e de Leitão Amaro e Hugo Soares saboreando, abraçados, os nutrientes gin’s, em galhofa, e brindando ao futuro, escapou decerto aos especialistas da comunicação. Um sismo.

O PM tem direito a férias e ao descanso, mas seguramente que não, quando o país ardia e os seus compatriotas corriam num desespero, tentando proteger o que era seu. O aparente desinteresse e desapego foi infame. Há horas e horas.

Os governantes não podem permitir que o seu comportamento crie nos eleitores a percepção de que as tragédias lhes são indiferentes. Mas essa sensação passou. Se relermos os jornais de outras épocas, constatamos que não foram os primeiros na escusada irresponsabilidade. Mas essa verificação não os iliba de um erro imprudente.

Nestes dias de um Agosto severo, impunha-se recato, e que a festa do Pontal se interrompesse. Fazia parte do bom senso. Mas o exercício do poder vive destes detalhes: os seus detentores julgam-se acima de tudo e de todos, e donos da razão.

Um mal que ataca todos por igual, mal fazem os juramentos e se sentam nos cadeirões dos ministérios. Mais parece que entram numa centrifugadora, que lhes faz uma lavagem ao corpo inteiro, começando pelo sistema nervoso central, em particular pelo cérebro. Contrariar o óbvio, foi uma tentação, a que o PM não se furtou.

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Publicado em Opinião