Se fosse possível prever com algum grau de certeza o futuro próximo, diria que o pior já passou. Retenho deste tempo anormalmente escaldante duas notas políticas.
O irrequieto Ventura continua no caminho do populismo descarado, com a maior desfaçatez e sem um pingo de vergonha. Vê-lo no meio da mata, como um resineiro, num esforço desenfreado a tentar apagar as chamas com um inocente ramo de giestas na mão, foi um espectáculo degradante. Aturdido com as fonas, magoado com o ar irrespirável, foi sol de pouca dura. A publicidade ao momento de glória foi miserável. O aproveitamento político de momentos aflitivos nunca foi tão baixo. Foi uma absoluta palhaçada.
O resultado prático foi zero, e só serviu para promover a sua imagem, obcecado que anda com o culto da personalidade, tentando imitar o argonauta Trump e o anafado Milei, duas criaturas azedas e repugnantes. Ventura, um egocêntrico, ter-se-á convencido, a si e aos seus seguidores, lambuzados num espasmo de serventia, mas não foi responsável, nem inspirou confiança.
Quem anda emboscado, à cata de uma oportunidade para aparecer, bronzeado e luzidio, não merece conversa. Um político assim, que não conhece limites e princípios, não tem créditos, nem é confiável. Tudo, até a desgraça, lhe serve para aparecer e dizer umas asneirolas e banalidades.
Politicamente, o Ventura, que faz cenas desta índole, é um bimbo, capataz da bimbalhada, moço de fretes de Abascal, Le Pen, Meloni, Farage e Wilders, recruta alocado às questões da intendência extremista europeia. Uma excrescência, de mãos sujas. Um tumor.
Quem se senta no Conselho de Estado, independentemente das ideologias que professa e das bandeiras que agita, deveria ter um perfil de contenção e sobriedade, qualidades que não encaixam em Ventura, palavras que não integram o seu dicionário político. Sobre este tema, André devia dar-se ao respeito, para ser respeitado.
Não é que a presença acrescentasse, ou melhorasse, antes pelo contrário, mas as férias no Algarve foram inoportunas. A divulgação de fotografias de Luís Montenegro a banhos nas águas mediterrânicas, e de Leitão Amaro e Hugo Soares saboreando, abraçados, os nutrientes gin’s, em galhofa, e brindando ao futuro, escapou decerto aos especialistas da comunicação. Um sismo.
O PM tem direito a férias e ao descanso, mas seguramente que não, quando o país ardia e os seus compatriotas corriam num desespero, tentando proteger o que era seu. O aparente desinteresse e desapego foi infame. Há horas e horas.
Nestes dias de um Agosto severo, impunha-se recato, e que a festa do Pontal se interrompesse. Fazia parte do bom senso. Mas o exercício do poder vive destes detalhes: os seus detentores julgam-se acima de tudo e de todos, e donos da razão.
Um mal que ataca todos por igual, mal fazem os juramentos e se sentam nos cadeirões dos ministérios. Mais parece que entram numa centrifugadora, que lhes faz uma lavagem ao corpo inteiro, começando pelo sistema nervoso central, em particular pelo cérebro. Contrariar o óbvio, foi uma tentação, a que o PM não se furtou.