O PS, pelas palavras do seu secretário-geral, José Luís Carneiro, comprometeu-se com a AD a abster-se na votação do Orçamento de Estado.
O Chega, posto numa cómoda posição, espera para ver, de acordo com a sua postura de oportunismo, agora colocado entre os outros dois partidos, com ampla capacidade decisória e muito calculismo.
O Chega não precisa de se arredar um milímetro da sua estratégia ideológica, podendo abster-se, o que, neste momento, é igual a nada, votar contra se não forem satisfeitas as suas exigências, o que é igual a nada, sendo apenas uma decisão que lhe dá músculo perante o seu eleitorado, ou votar a favor, se as tais exigências forem satisfeitas, o que o coloca como preferido para futuras alianças com a AD, desvanecido o anátema do “não é não” que encheu a boca de Montenegro.
O PS está acocorado e entalado entre os dois. Sabe que se votar contra o OE o Chega vota a favor. Abstendo-se, o Chega vai pensar… mas com muito campo de manobra eleitoralista.
“Vontade profunda de estabilidade política de todos os portugueses”, é assim que o PS justifica a sua posição de “abstenção exigente”, o que quer que isso seja senão uma frase bonitinha para salvar a face.
A dar continuidade a estas posições, mais tarde ou mais cedo será usado e abusado pela AD e canibalizado pelo Chega, perdendo o respeito dos portugueses. O que representa um enorme risco para o equilíbrio democrático do país e uma possível e vertiginosa viragem à direita e à extrema-direita.
Este não é um PS forte. É sim um PS frágil em busca de um lugar perdido. Com posições destas, corre o grave risco de minguar e de ver crescer aquele a quem dá a mão e o outro, aquele que recebe no colinho todos os resultados destes ambíguos ziguezagues.
Ficando a meio da ponte evidencia a sua fraqueza, mas também uma atopia penalizadora de quem ignora qual a boa via a seguir para chegar, com saúde e íntegro, ao seu almejado destino.