O momento kitsch da Feira de São Mateus

Há talvez duas semanas, se a memória me não falha, deixei aqui um apontamento positivo relativamente à evolução da Feira de S. Mateus sob a batuta de Jorge Sobrado. Em consciência, até para o maior opositor deste executivo, será impossível negar que o certame está definitivamente melhor.

  • 12:33 | Sábado, 01 de Setembro de 2018
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Há talvez duas semanas, se a memória me não falha, deixei aqui um apontamento positivo relativamente à evolução da Feira de S. Mateus sob a batuta de Jorge Sobrado. Em consciência, até para o maior opositor deste executivo, será impossível negar que o certame está definitivamente melhor.

Entre outros aspectos, melhorou a programação, melhorou a área de restauração, melhorou a abordagem ambiental, melhoraram as condições sanitárias, etc. … mas, com a mesma honestidade tenho de apontar os poucos mas visíveis aspectos que ainda necessitam de algum trabalho.

Se o objectivo é modernizar a feira, tornando-a apelativa a um público mais jovem, urbano, internacional, visto que o Dr. Sobrado fala muito da atracção transfronteiriça, não faz sentido então, na minha modesta opinião, manter as barracas de venda de cuecas manhosas a um euro e meias sem qualidade à dúzia, e embora sabendo que nem sempre é fácil completar os stands disponíveis alguma triagem merece ser feita. Importa também credibilizar os números das entradas, propagandisticamente divulgados semana a semana, e nesse campo há que melhorar ainda que de forma discreta o controlo de acessos, mesmo nos dias livres por forma a que esse número corresponda realmente aos visitantes da feira.


Outro aspecto e este sim, a meu ver importante, que tem limitado essa visão moderna que a Feira almeja, está relacionado com a comunicação social local que mantém uma visão Kitsch (no pior sentido) sobre o evento e o comunica ao seu público nesse formato.

Longe vai o tempo em que Viseu tinha na comunicação social a verdadeira oposição e a real medida dos factos da governação; o poder local fruto das dependências conseguiu domesticar essa imprensa. O viseense pode agradecer este facto ao Dr. Cotta, futuro candidato pelo PS à CMV a fazer fé nos boatos que correm, e ao mirtileiro João Paulo Rebelo.

No caso em concreto do Jornal do Centro, a comunicação sobre a feira varia entre o popularucho (não confundir com popular) e o tesourinho deprimente. Esta parolice tem o expoente máximo no programa “Conversa Radical” (se o leitor ainda não viu, não perca a próxima pérola é coisa digna dos Gato Fedorento) num modelo ridículo que roça mesmo o patético mas por onde já passaram diversas figuras e personalidades locais dos mais variados quadrantes, incluindo o antes crítico BE. Para quem não viu: Este programa conta com um entrevistadeiro, em estilo Cristina Ferreira que não chegou a sair da aldeia, a fazer perguntas a um convidado (sempre uma figura mais ou menos conhecida de Viseu) normalmente ligado à política, enquanto andam nos carrinhos de choque. Entre os gritos e berros do apresentadeiro, música de carrinhos de choque e barulho de fundo, o entrevistado tenta dar respostas às perguntas mais estapafúrdias algum dia feitas naquele ambiente (e isto já é dizer muito da qualidade das mesmas) misturando com uns “caramba, caraças, o gajo já nos bateu” e outros primores de linguagem brejeira o que só por si, diz bem de quem a troco de um prometido mediatismo aceita expor-se a tal miserabilismo.  Para quem viu: lamento, mas continuem a acreditar, porque é verdade que nem tudo em Viseu é tão medíocre! O problema, obviamente, não é do jornaleiro que não saberá mais e a quem terão convencido que faz ali um brilharete, mas sim da direcção do jornal que prefere entreter o leitor de uma forma barata, enquanto evita fazer as perguntas certas, às pessoas certas, na hora certa, como o diabo evita a cruz.

No entretanto, Alexandre Azevedo Pinto, fazendo o trabalho da oposição, lançou sérias dúvidas sobre as contas do Município de Viseu, alertando para o facto da receita ter crescido apenas 3% enquanto a despesa disparou em 23%. O Jornal do Centro, certamente também não quererá abordar este problema de forma séria e aproveitará para no próximo “Conversa Banal” convidar o Vereador José Pedro Gomes, economista de formação, ainda jovem (será eternamente jotinha) e perguntar-lhe por estes números apanhando-o de surpresa de modo a perceber se dedica mais tempo ao núcleo do Sporting ou a apanhar bonés!

Temos a imprensa que temos porque temos a oposição que elegemos. Talvez seja altura de criar um “Movimento Radical” de viseenses, de folha limpa e cabeça arrumada de ideias para também fazer do concelho o que se pretende fazer da Feira de São Mateus, um espaço moderno e atractivo.

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Publicado em Opinião