Na Melhor Cidade para Viver… a pobreza

Com base nos dados do INE que analisam o poder de compra dos cidadãos é possível tirar algumas conclusões sobre a forma como a riqueza está distribuída pelo país.

  • 13:08 | Sábado, 27 de Abril de 2019
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Com base nos dados do INE que analisam o poder de compra dos cidadãos é possível tirar algumas conclusões sobre a forma como a riqueza está distribuída pelo país. Constata-se, com alguma facilidade, que existe uma enorme disparidade entre o poder de compra de quem vive nos grandes centros urbanos do litoral e o baixo poder de compra da grande maioria dos concelhos do interior onde Viseu se inscreve.

A crise 2009 a 2014 criou uma nova classe de pobreza. Muita classe média que não tinha experimentado restrições vê-se agora no sacrifício da pobreza e sobretudo, nos jovens com maior escolaridade os efeitos de redução salarial fizeram-se sentir com mais força. As famílias numerosas com crianças e com adultos de baixa escolaridade constituem o grosso da população em condição de pobreza monetária e foram particularmente afectados pela crise. 5 anos depois a estes juntam-se também alguns emigrantes para quem Portugal não correspondeu ao sonho do El Dorado esperado.

Não dispondo de dados concretos nem conhecendo qualquer esforço de compilar, sistematizar e analisar toda a informação disponível para a produção de um retrato sobre a pobreza e exclusão social na cidade de Viseu infelizmente constato a olho nú uma realidade a que muitos parecem alheios, e em especial aqueles que nesta matéria detêm responsabilidade social.


Deixem que concretize alguns desses retratos. Em plena Rua Formosa, mesmo ali nas barbas da Praça, uma senhora possivelmente estrangeira, passa os dias a pedir ajuda com uma criança. Já me apercebi de um agente da PSP abordar a senhora, mas ali se mantêm dias a fio com a criança ao frio, à chuva e ao sol. Alguns dizem que o marido se aproveita dela e que vivem do rendimento social de inserção optando por este expediente para não ter que trabalhar, contudo não estou certo desta informação duvidando mesmo que o casal reúna os elementos necessários para receber essa ajuda social do Estado. Mais abaixo na Rua Capitão Silva Pereira no parque de estacionamento encontramos uma carrinha estacionada que serve de moradia para um casal de romenos em que a mulher poderá ser a mesma atrás referida e o marido dedica a sua existência em cervejas, cigarros e raspadinhas no café Império. Se depois entramos pela Rua do Gonçalinho encontramos pelo menos 5 casas devolutas das quais uma destas estará já ocupada por toxicodependentes e sem-abrigo, que não estiveram com meias medidas, “abriram” a porta e colocaram um cadeado. Os vizinhos dizem ter medo de ali passar e que o local hoje é um gueto de emigrantes do Bangladesh e do Brasil. E, se continuarmos pela cidade encontramos sem abrigo debaixo da ponte junto ao Fórum, na Avenida Alberto Sampaio, vendedores de cestos a viver em carrinhas junto ao Continente, prostituição junto à Católica, pessoas a passar por diversas dificuldades no Centro Histórico, etc…  Um Observatório de Luta Contra a Pobreza na Cidade poderia espelhar melhor alguns destes exemplos que aqui cito e só o faço pela estranheza de Estado e sociedade civil parecer ignorar esta realidade.

Mergulhada no foguetório da politica propagandeada do executivo, ignorada pela oposição e anestesiada na sociedade civil onde até a Associação Olho Vivo hoje parece destinada a mudar de designação para Olho Morto, a cidade vai vivendo o seu quotidiano como se a pobreza fosse só dos que a sofrem e não dos que a permitem seja Natal ou Páscoa, Verão quente ou Inverno frio. Onde estão os políticos eleitos? Onde estão os técnicos da Segurança Social? Onde estão os agentes da autoridade? Responda quem souber!

Não podemos deixar que a pobreza se transforme na paisagem da cidade nem deixar de lutar para que todos os viseenses, nascidos, criados ou aqui residentes tenham um poder de compra equivalente aos lisboetas. Este desígnio só se atinge com a atracção de investimento qualificado, que vá muito além dos ordenados mínimos oferecidos em call-centers, com o apoio a comerciantes e empreendedores com mérito, com o reforço da capacidade de resposta das instituições de solidariedade social e com a mobilização de todos os viseenses. A não ser assim, continuaremos a ter menos Viseu e mais Lisboa!

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Publicado em Opinião