Lembram-se da doença das vacas loucas?

As pastagens e a forragem fundamentais à alimentação de bovinos, se ricas em água e fibra, proporcionam um ganho de peso moderado. Peso, sendo o conceito-chave, os concentrados vão complementá-lo com os seus elementos nutrientes. A gravidade maior estará quando se juntam a esses dois elementos alimentares fármacos à base de betagonistas para gerar um efeito anabolizante, para a engorda rápida.

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  • 14:46 | Domingo, 07 de Fevereiro de 2021
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Corria a década de 80 quando o mundo viu chegar de Inglaterra a doença das vacas loucas.

O hiperconsumismo mundial de carne tinha levado a uma vertiginosa aceleração, a qualquer custo, da engorda dos animais para a alimentação. Alimentar em abundância e a preços baixos era o objectivo a atingir num mercado cada vez mais exigente em quantidade e alheado da qualidade, sem se questionar sequer sobre como são os animais tratados. Tratados será até má expressão. Maltratados será mais adequada à realidade.

O animal, outrora criado em plena natureza, deixou de ser rentável. Assim, para suprir esse handicap, os animais destinados à alimentação humana passaram a nascer e a ser criados em cativeiro, frequentemente em situações desprovidas de qualquer vestígio de humanidade.


O seu fim primeiro sendo o de transformar a proteína vegetal em proteína animal, com a procura, essa proteína animal foi parcial, desastrosa e criminosamente substituída por produtos químicos.

Lembremo-nos que as vacas loucas surgem na Inglaterra em pleno governo de Margaret Thachter e como provável consequência da total desregulamentação do sector, que tinha posto de lado os controlos veterinários para não empecilhar as leis de mercado e a necessidade de produzir mais a um custo menor, sem prevenir e acautelar a segurança alimentar.

Mais de quatro décadas escoadas, vemos surgir na China o Covid 19, vírus entretanto proliferado por várias estirpes, desde a britânica, à brasileira, à mexicana e… outras mais ainda desconhecidas.

Se há os que defendem que o vírus se escapou de um laboratório em Wuhan, onde estava a ser manipulado, sabe-se lá com que finalidade, a tese de que será oriundo de um mercado de animais, na mesma cidade, tem os seus defensores, aparecendo já a teoria despistadora de que surgiu na China por via de ultracongelados importados.

Se há hoje 105 milhões de infectados em todo o mundo, fora os não quantificados, quantificados foram mais de dois milhões de óbitos causados pela pandemia. Uma calamidade…

Talvez tenha chegado a altura, a um custo multimilionário e com um número de vítimas crescente, de uma profundíssima e séria reflexão sobre a forma como o homem lida com os seus recursos naturais, com a sua alimentação, com a forma como a produz.

As pastagens e a forragem fundamentais à alimentação de bovinos, a título de mero exemplo, se ricas em água e fibra, proporcionam um ganho de peso moderado. Peso, sendo o conceito-chave, os concentrados vão complementá-lo com os seus elementos nutrientes. A gravidade maior estará quando se juntam a esses dois elementos alimentares fármacos à base de betagonistas para gerar um efeito anabolizante, para a engorda rápida.

Recordemos que em Portugal, a prática de engorda rápida com betagonistas viola três leis do Código Penal: perigo relativo a animais ou vegetais, punível com pena até dois anos de prisão ou multa (artigo 281.º), corrupção de substâncias alimentares ou medicinais, sujeito a pena de prisão de um a oito anos (artigo 282.º), e proibição de substâncias betagonistas, com contra ordenação que pode ir de 500 euros a 44 890 euros (artigo 17.º do Decreto-Lei n.º 185/29005).

Esta fiscalização compete à ASAE e creio que estamos em boas mãos quanto ao produto nacional. Todavia, convém ter presente que grande parte da carne consumida vem de fora e, se as regras de higiene sanitária são integralmente cumpridas ou não no país de origem, isso será uma incógnita para todos nós…

Esta crónica mais não visa do que reflectir sobre quanto hoje o ser humano faz contra natura e das possíveis consequências daí advenientes. Se o vírus que afecta hoje o mundo inteiro vem ou não da carne de morcego (a quem lembraria comê-la?), tal torna-se quase irrelevante, no passa-culpas planetário e face à extensão do mal causado.

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Publicado em Opinião