Hitler em chamas

Hora a hora, o fim de Hitler tornou-se iminente e aguardado. Discutiam-se abertamente os melhores processos. Quem quis, recebeu ampolas de ácido prússico. Hitler, paranóico, testou a eficácia na sua cadela, pela qual nutria mais afecto, escreve Ian Kershaw, «do que por qualquer ser humano, provavelmente até incluindo Eva Braun». Verificando o seu efeito letal imediato, meteu-se no quarto. Os soviéticos não deviam estar a mais de quinhentos metros.

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  • 18:20 | Quinta-feira, 17 de Dezembro de 2020
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Na magnífica biografia que escreveu sobre Hitler, Ian Kershaw abre o capítulo final com o último aniversário do ditador, o quinquagésimo sexto, em 20 de Abril de 1945. A pompa e o júbilo dos anos anteriores deram lugar a um ambiente fúnebre. A Chancelaria do Reich, onde se encontrava foragido, quinze metros abaixo da superfície, estava em escombros. A celebração era um constrangimento para todos, incluindo para ele, que aceitava os parabéns com a morte à frente dos olhos.

De madrugada, foi acordado para receber a notícia de que os soviéticos estavam a noventa e cinco quilómetros de Berlim. Na verdade, não conseguia dormir, e por isso deu instruções para o despertarem uma hora mais tarde do que era habitual, às duas da tarde. Já se ouvia a artilharia inimiga quando recebeu os altos dignitários, que lhe vieram dar os parabéns e proceder às despedidas.

Chegou a noite. Quem podia, fugiu. As bombas atroavam no centro de Berlim, fazendo estremecer as fundações da Chancelaria. Em horas, os soviéticos chegaram aos subúrbios da cidade. Hitler gritava às poucas pessoas que se mantinham ao seu lado que tinha sido atraiçoado. Tudo está muito bem contado por Ian Kershaw, e eu limito-me a segui-lo.


Depois, foi tomado pela prostração. Pediram-lhe que retirasse, para não ser aprisionado. Recusou. Goebbels viu coerência nessa atitude e juntou-se a ele, com a família. Hitler ainda protagonizou episódios coléricos e recessões apáticas. Deu instruções para que o seu corpo fosse incinerado. Perante Albert Speer, arquitecto e ministro do Armamento, filosofou sobre o suicídio e a libertação de uma «existência de infelicidade».

Hora a hora, o fim de Hitler tornou-se iminente e aguardado. Discutiam-se abertamente os melhores processos. Quem quis, recebeu ampolas de ácido prússico. Hitler, paranóico, testou a eficácia na sua cadela, pela qual nutria mais afecto, escreve Ian Kershaw, «do que por qualquer ser humano, provavelmente até incluindo Eva Braun». Verificando o seu efeito letal imediato, meteu-se no quarto. Os soviéticos não deviam estar a mais de quinhentos metros.

Hitler tomou conhecimento da execução de Mussolini, embora seja impossível verificar se também soube das circunstâncias cruéis em que foi pendurado, de pernas para o ar, e apedrejado pela multidão.

Despediu-se do pessoal doméstico e dos médicos pessoais. Os soviéticos atacaram a chancelaria. Era evidente que Berlim cairia nas suas mãos em poucas horas. Hitler anunciou que daria um tiro na cabeça ainda nesse dia e que Eva Braun também se mataria. O oficial das SS encarregado da incineração solicitou a gasolina ao motorista de Hitler.

O grande Führer almoçou à hora habitual. A bala entrou-lhe pela têmpora direita. A ingestão de ácido prússico deixou um odor a amêndoas amargas. Os assistentes levaram-no para o jardim e puseram o corpo de Eva Braun ao seu lado. Regaram-nos com gasolina em abundância e incendiaram-nos. Quando os soviéticos chegaram, em 2 de Maio, foi a dentição que o identificou. Os restos seguiram para Moscovo.

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Publicado em Opinião