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Egoísmo

A AD queixou-se (dos eleitores, da CNE, do PS?) porque os votos na ADN “eram seus”. Esta maravilhosa narrativa, mais usada por quem frequenta a base da escada, diz quase tudo sobre responsabilidade. Admitamos que parte muito significativa dos votos ADN fossem votos AD. A ser assim, também temos de assumir que esses votos na AD são votos nada esclarecidos, influenciados vá-se lá saber porque razão.

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    • 14:27 | Sábado, 16 de Março de 2024
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    As últimas eleições legislativas legaram-nos uma assinalável confusão. Confusão que, provavelmente, ainda está no início ascendente.

    Muitas análises são feitas todos os dias para tentar explicar os resultados e, especialmente, o do Chega. Rapidamente houve quem o catalogasse como “partido de protesto”. Outro não hesitaram em afirmar que “não há 1.1 milhões de portugueses racistas, xenófobos e fascistas”. Demos de barato que todos têm alguma razão, mas, também é seguro afirmar que para esse milhão de portugueses as questões do racismo, xenofobia, homofobia, da ciência, etc., não são coisas assim tão importantes, disponíveis que estão a confiar o seu voto em quem perora, por convicção ou piada, odiosamente, sobre tais assuntos e faz propostas vexantes.

    O Chega teve o mérito de arrancar à abstenção cerca de 800 mil eleitores. Uns porque foram votar neste partido, outros porque, temendo o crescimento do Chega, trocaram as pantufas pelos sapatos e lá foram à mesa de voto. Temos um retrato mais claro do que é afinal Portugal. O seu discurso é eficaz e mobiliza toda a gente, uns a favor, outros contra. Na verdade a última campanha eleitoral, em vez de tratar de propostas para o país, tratou apenas e só do Chega e da governabilidade à sua volta. Assim não será propriamente de estranhar que o resultado fosse o que foi. Em Viseu elegeu 25% dos deputados (esta é a percentagem que realmente conta) e a nível nacional ficará acima dos 20% dos eleitos.

    Para grande parte dos seus eleitores, parece-me, a dualidade esquerda-direita, vale zero, privilegiando-se a demagogia fácil de quem aponta os erros grosseiros a quem nos tem governado desde o 25 de Abril de 1974. Estão certos de que o discurso moderado e/ou mais sensato dos partidos ditos tradicionais ou do “arco da governação” não passa de discurso e não de prática, já que consideram que estes partidos estão sempre prontos a fazer o contrário do que prometem aos eleitores, a deixar para as calendas outras tantas promessas (especialmente as feitas ao interior do país) e a desvalorizar todos os “casos e casinhos” que se passem nas suas hostes, engendrando mil e umas razões para não fazer o óbvio e, através da confiança entre eleitores e eleitos, devolver dignidade à política. Assim, sem linhas irrevogavelmente inultrapassáveis, sem espírito forte de comunidade, julgam que o discurso do Chega não é assim tão diferente dos restantes.


    A AD queixou-se (dos eleitores, da CNE, do PS?) porque os votos na ADN “eram seus”. Esta maravilhosa narrativa, mais usada por quem frequenta a base da escada, diz quase tudo sobre responsabilidade. Admitamos que parte muito significativa dos votos ADN fossem votos AD. A ser assim, também temos de assumir que esses votos na AD são votos nada esclarecidos, influenciados vá-se lá saber porque razão. Assumimos, então, que os partidos catch them all andam há décadas a viver alegremente deste expediente de irresponsabilidade (dos partidos, da CNE, dos eleitores?) até que surgiu um novo concorrente?

    Vivemos numa sociedade cada vez mais egoísta. A educação a isso nos leva. A competição, que vem no pacote do empreendedorismo, empurra-nos para tal. Somos cada vez menos uma sociedade e muito mais uma amalgama de gente, cada um por si, um salve-se quem puder entre famílias. Assim, o discurso de direita, da direita mais radical, como é o caso da IL e do Chega, vai caindo como uma luva nas mãos de quem vota, privilegiando o eu em detrimento do colectivo.

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