Numa sociedade, os idosos e os recém-nascidos são as duas franjas etárias mais frágeis. Se os anciãos são descartáveis como as Bic’s – honra às exceções – num país com uma tão acentuada quebra demográfica deveríamos esperar que os segundos fossem tão abençoados como a chuva cálida depois da longa seca.
Mas não. Hoje, como se tornado hábito, já não preocupante mas alarmante, há mães a dar à luz e a “largar” os filho nas maternidades – o lugar da “mater”. Não há competência para julgar um ato deste teor. E falar em desumanidade é simplista. Acreditamos que só o mais profundo e exacerbado dos desesperos pode levar uma mãe a abandonar seu filho. Ou um filho a abandonar seu pai… Atrocidades, ambas.
Que maculada cegueira nos tolda a vista e não nos deixa ver quem são os idosos de amanhã. Aqueles que irão ser deixados entregues a si e ao seu temível destino: morrer sozinho pelos filhos desprezados, como nascer sozinho, fugida a mãe a seguir ao parto.
Questão cultural? Só muito parcialmente. Há tribos no mais recôndito sertão que festejam e acarinham tanto os nascituros como os anciãos. Questão económica? Será ela o cerne da questão. Mas é certo também que há famílias tão pobres como Job ou os Fandingas e onde avô e neto nunca foram repudiados.
Isto da globalidade é uma chatice…
Hoje, que todos começámos a perceber como a “globalidade” nos roubou a alma, a memória e a carteira, ansiamos voltar a pertencer a um território, uma região, um concelho, quase com guardas fronteiriços de atalaia à nossa identidade.
Comer cozido à Portuguesa com reco cevado a lavagem, nabo, cenoura, couve e batata da horta e azeite do nosso olival. Tinto da velha cepa. Pita pedrês do nosso galinheiro e vitela do nosso lameiro. É que, à parte que me toca, tal cozido com porco andaluz, nabo galego, cenoura belga, batata romena, azeite chileno, tinto napolitano, pita da indonésia e vitela made in USA, não me cheira nem me sabe… Mas é global. Lá isso é.