Desaparecidos em debate

Custa-me compreender que tenhamos alguns temas desaparecidos em debate: Política Internacional, Imigração, Coesão Territorial, Pobreza, Longevidade, Educação.  

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  • 12:01 | Sábado, 03 de Maio de 2025
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Reconhecendo que não é fácil debater temas complexos, em 60 minutos, o debate entre os dois principais candidatos a Primeiro-ministro, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, não foi empolgante.

A tarefa foi dificultada pelo tempo perdido com ataques pessoais que nada contribuem para a clarificação do eleitorado e progresso do país. Opções que terão consequências nas urnas, favorecendo os extremos e engrossando a abstenção. Foram abordados alguns temas relevantes como a crise na saúde e na habitação, a sustentabilidade da Segurança Social e o crescimento económico. Custa-me compreender que tenhamos alguns temas desaparecidos em debate: Política Internacional, Imigração, Coesão Territorial, Pobreza, Longevidade, Educação.

Temos um homem perigoso na Casa Branca. A democracia americana está a colapsar. A extrema direita cavalga os descontentamentos e as fragilidades das democracias ocidentais. A Europa está enfraquecida e, se não arrepiar caminho, arrisca-se a não passar de um museu. Não houve uma palavra sobre as guerras na Ucrânia e na Palestina. Vamos investir mais na defesa e em armamento?

Os movimentos migratórios são um desafio para a Europa. Portugal não é exceção, pela necessidade e inevitabilidade. Como é possível que os dois maiores partidos entreguem, de mão beijada, este tema, que inquieta a população, ao populista André Ventura? Preparemo-nos para o ver empunhar a espada do medo contra a invasão dos “bárbaros”, alimentando a desumanização do outro.


As assimetrias entre o interior e o litoral são um não assunto? O abandono, e consequente despovoamento, dos territórios do interior repercute, diretamente, na menor representação política. Viseu só elege 8 deputados, Bragança 3, Vila Real 5, Guarda 3, Castelo Branco 4, Portalegre 2, Évora 3, Évora 3. Os 8 distritos somados elegem 31 deputados, menos do que o Porto que elege 40 e Lisboa 48.

Se considerarmos os “paraquedistas”, deputados que são eleitos por territórios que desconhecem, compreendemos melhor as razões que justificam o enfraquecimento das nossas vozes que dificilmente chegam ao centro da decisão com a força necessária para se imporem. Estaremos condenados a viver das migalhas sobrantes da bicefalia, corporizada pelas áreas metropolitanas de Porto e Lisboa? Vamos continuar a ter entidades estranhas aos territórios, que não conhecem as suas gentes e respetivos desafios, a comandar a putativa inovação social e o mirífico empreendedorismo social, numa lógica provinciana de gostar do que vem de fora e não valorizar, ou mesmo ostracizar, os recursos existentes no território?

Relativamente à pobreza, foram referidas medidas importantes como o Complemento Solidário para Idosos (CSI), o aumento das Pensões e o apoio nos medicamentos. O que será feito para combater o flagelo social das pessoas em situação de sem-abrigo? Como se resolverá a incapacidade de fazer face às necessidades básicas de quem trabalha e, mesmo assim, é pobre? Que estratégias serão adotadas para quebrar os ciclos geracionais da pobreza estrutural? A pobreza nunca é um problema meramente material. Uma realidade complexa e dificilmente inteligível para quem nasce, cresce e vive numa bolha de privilégios com pouca conexão com a realidade do cidadão comum.  

A narrativa, quando se fala de envelhecimento, é paupérrima. Nunca é abordada a perspetiva da qualidade de vida, associada a uma maior longevidade. As pensões são o alfa e o ómega? Os rendimentos dos pensionistas são importantes, mas há muitos outros tópicos relevantes para qualquer governo que pretenda garantir um país para todas as idades. O combate ao idadismo deve ser priorizado. Não podemos continuar a falar nos “nossos idosos” / “nossos mais velhos”, “jovens há mais tempo”, numa lógica paternalista e assistencialista que não serve a ninguém. É preciso desconstruir a imagem negativa, de dependência, e incapacidade, associada às pessoas mais velhas. É urgente mudar a forma como pensamos, sentimos e agimos em relação ao envelhecimento. Não podemos pensar apenas em reforçar os orçamentos a quem apoia pessoas idosas institucionalmente. É importante criar oportunidades de participação, segurança, saúde e aprendizagem ao longo da vida que garantam uma longevidade ativa, saudável e feliz e salvaguardem os seus direitos e dignidade.

A educação resume-se à carreira dos professores? A educação é a trave mestra para o progresso de qualquer país. Os resultados escolares das nossas crianças e jovens, segundo os relatórios internacionais, têm vindo a piorar. As escolas recebem milhares de alunos estrangeiros, muitos não falam português, e pouco se tem feito para munir a comunidade escolar dos instrumentos necessários para os integrar. O que dizer da falta de professores? O que será feito para melhorar as condições dos alunos com necessidades educativas especiais? A campanha eleitoral abre uma janela de oportunidade para abordar estes e outros temas, pode marcar a diferença no combate à abstenção e impedir que os extremos levem a melhor.

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Publicado em Opinião