Chalana era diferente: passa a bola ao menino

   Esta era a primeira vez que assistia ao futebol do Chalana ao vivo. Era diferente. Não sei dizer se melhor. Mas era diferente. Os companheiros sabiam disso e a liberdade que ele tinha para ser "vadio" dentro do campo era a prova. O público agitava-se sempre que a bola lhe chegava aos pés. Era impressionante.

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  • 16:16 | Quinta-feira, 11 de Agosto de 2022
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O primeiro jogo internacional a que assisti foi o Benfica – Torpedo de Moscovo, no dia 5 de setembro de 1977, para a Taça dos Campeões Europeus.

Com 10 anos de idade e “sozinho” em Lisboa, tive a oportunidade de, durante uma semana, assistir a quatro jogos acompanhando diferentes familiares. No entanto, este foi um jogo muito especial por estarem 60.000 pessoas a assistir no estádio. A minha estupefação era enorme. Nunca tinha visto tanta gente junta.

         As memórias também são uma invenção e atraiçoam-nos por vezes. Porém, eu recordo este jogo por tudo o que vivi neste dia e nesta noite em Lisboa. Dos jogadores, lembro‑me de Bento, Humberto e Chalana. O primeiro porque tinha agilidade e coragem incomuns. O capitão, pela classe, sobriedade e forma como comandava a equipa. Chalana, por ser o Chalana. Um jovem de 18 anos com um talento extraordinário. A cada toque seu, parecia que o estádio vinha abaixo. Empolgava a sua ousadia de correr para a defesa contrária e contorná-la. Eram os momentos em que eu mais prestava atenção ao jogo.

Esta era a primeira vez que assistia ao futebol do Chalana ao vivo. Era diferente. Não sei dizer se melhor. Mas era diferente. Os companheiros sabiam disso e a liberdade que ele tinha para ser “vadio” dentro do campo era a prova. O público agitava-se sempre que a bola lhe chegava aos pés. Era impressionante.


Eu queria absorver tudo que se passava no Estádio da Luz. Não só o jogo, mas sobretudo o seu ambiente. Lembro de olhar em redor e reparar que não passava um milésimo de segundo que fosse sem que houvesse um fósforo ou isqueiro a acender um cigarro. Prova do nervosismo e empolgamento do público. Era um espetáculo dentro do espetáculo e eu não queria perder pitada.

Poucos anos depois, vi Chalana nos pelados do Conde da Anadia, em Mangualde, e no Estádio do Fontelo, em Viseu. Mesmo nos pelados, Chalana era bola no pé e muita ginga. Quem não gostava de ver Chalana jogar, não gostava de futebol. As preocupações dos treinadores adversários para com o pequeno genial dão excelentes histórias. A marcação individual era a tática mais utilizada e muitos dos jogadores adversários levaram a rigor o “segue o homem por todo o lado”. Até os adversários o idolatravam.

 

O Campeonato Europeu de 1984 é o momento de reconhecimento do seu talento internacionalmente. É inesquecível para a minha geração. Ver Fernando Chalana jogar era uma aprendizagem constante que queríamos transferir para os nossos jogos. Mas era impossível. Só ele tinha aquela genialidade.

Chalana era um ídolo para todos os jovens que praticavam desporto e foi sempre um ser humano humilde e bom. Mesmo depois de acabar a carreira, Chalana nunca se envolveu em polémicas de fanatismos clubísticos, que não fazem sentido. A sua vida pessoal foi das primeiras a ser “televisionada” com a participação no programa de Herman José, o Tal Canal. Tudo era novidade com o pequeno genial.

Para mim será sempre um exemplo de atleta. Obrigado, Chalana!

 

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Publicado em Opinião