Autárquicas Santa Comba Dão: É tempo de fazer política 

Este será o tempo de chamar todos à responsabilidade: quem ganhou sem maioria deve ter a humildade e a perspicácia de construir pontes, quem está na oposição e tem a capacidade de criar maiorias deve ter a atitude de trabalhar em benefício do concelho.

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  • 15:23 | Quarta-feira, 15 de Outubro de 2025
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Os e as eleitoras de Santa Comba Dão optaram pela alternância nas eleições do passado domingo, 12 de outubro. O concelho era governado há 12 anos pelo Partido Socialista de Leonel Gouveia, que em fim de mandato, teve de ceder a liderança à sua vice-presidente, Catarina Costa, que acabou por perder, por pouco (uma diferença de 212 votos) contra a candidata da coligação PSD/IL, Inês Varela Matos, até então a Presidente da União de Freguesias de Santa Comba Dão e Couto do Mosteiro.

O Partido Socialista perdeu 974 votos, em comparação com 2021, e curiosamente o movimento independente Santa Comba Mais obteve 966 votos, podendo reconhecer uma clara transferência de votos do PS para o movimento, até porque a génese deste movimento parte de alguns “divergentes” do Partido Socialista local.

O PSD, que ganhou este ano as eleições, teve um pequeno aumento face a 2021, de 73 votos. Ou seja, esperava-se que o cansaço acumulado por uma governação de 12 anos (que deixou pouco trabalho feito) pudesse representar uma vitória mais expressiva do PSD.


Claro que podemos dizer que a candidatura do Chega veio mexer também com os votantes do PSD, mas existem concelhos onde isso nem se sentiu, portanto, onde o PSD teve a capacidade de capitalizar a maior parte dos votos à direita (tendo em conta que a candidatura do Chega em Santa Comba Dão era bastante fraca, com candidatos com pouco rasgo político e com um programa eleitoral pobre e genérico).

O contexto municipal foi este: uma campanha tendencialmente polarizada pelo PSD e pelo PS, com um movimento independente a furar e a eleger nos três órgãos aos quais se candidatou (Câmara Municipal, Assembleia Municipal e Assembleia de Freguesia de Santa Comba Dão e Couto do Mosteiro), um Chega fraco (mas com a tendência nacional a puxá-lo) e uma CDU que praticamente não teve expressão nas mesas de voto. 

Também poderemos impor responsabilidades ao contexto nacional, sobretudo aos resultados do Chega e da CDU no município, com um país claramente a tender para a direita e com os partidos de esquerda sem saber muito bem como se posicionar neste novo contexto.

Poderemos também, há leituras para todos os gostos, dizer que internamente o PSD teve uma situação complicada, com o partido e os seus militantes a divergir relativamente ao candidato. No entanto, a mesma leitura se pode fazer ao PS, que também teve problemas internos na eleição do seu candidato à Câmara Municipal.

Santa Comba Dão alternou o poder 12 anos depois, o que é de salutar, mas terá uma governabilidade difícil e exigente, tanto na Câmara Municipal como na Assembleia Municipal onde os resultados foram os seguintes: Câmara Municipal (3 PSD, 3 PS, 1 Independentes), Assembleia Municipal (11 PSD, 12 PS, 3 Independentes, 1 Chega), aqui já a contar com os Presidentes de Junta eleitos (4 PS e 2 PSD). 

Este será o tempo de chamar todos à responsabilidade: quem ganhou sem maioria deve ter a humildade e a perspicácia de construir pontes, quem está na oposição e tem a capacidade de criar maiorias deve ter a atitude de trabalhar em benefício do concelho.

Agora, é tempo da verdadeira política, da política séria, de acordos, de cedências, de convergência, de negociações. Não é tempo de construir muros, é tempo de construir pontes em prol do concelho de Santa Comba Dão. Agora é tempo de ver quem tem a capacidade política de gerir os anseios dos santacombadenses.

Uma coisa é certa: esta conjuntura política municipal poderá beneficiar a saúde democrática do concelho, exigindo o diálogo, mas claro que isto não está ao alcance de todos.

 

Diego Garcia

(Foto DR)

 

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Publicado em Opinião