Há para aí uma grosa, se não mais, de definições de liderança. Umas mais sofisticadas, outras mais básicas e abrutalhadas, vão todas dar ao mesmo, usando ferramentas diferentes. E cada um de nós tem a sua, normalmente a que lhe dá mais jeito, lhe serve melhor a conveniência e lhe faz mais préstimo. E que guarda com todo o primor.
Todas convergem na capacidade de contagiar e mobilizar pessoas, grupos e instituições, em torno de sonhos e projectos. À liderança, estão associados os conceitos de poder, influência e autoridade. Vinculadas à liderança, figuram a definição de objectivos, a planificação de actividades, a informação de decisões e de resultados, a orientação/apoio da equipa e do seu desempenho e, por fim, a avaliação do seu rendimento. Independentemente dos vários conceitos, liderar sempre será supervisionar, orientar e coordenar. Seja na política, na catequese, num clube de futebol, nos bombeiros, numa cooperativa agrícola, na família.
Quem hesita e, tem medo, quem é cinzento e tergiversa, quem se rodeia de arrivistas e videirinhos, de gente que quer ajustar contas com a vida, que joga com cartas marcadas, pode ser um chefe, um pastor, um capataz, um fiel de armazém, um mestre lagareiro, mas nunca chegará a líder.
Liderar é ter carisma, característica que não se ensina, não se aprende, nasce com a pessoa, vem do berço. O carisma é natural, espontâneo, não se encomenda, não se transacciona, não se fabrica. Tem-se, ou não se tem. O que se produz de brinquedo em olarias e em fabriquetas artesanais é acessório inútil dos líderes de barro. Não resiste aos pingos da chuva, nem aos ventos de Inverno.
Há quem passe a vida a ignorar que não tem perfil para líder. Uma excelente pessoa, um óptimo trabalhador, um amigo 5 estrelas, mas líder, não. Cada um é para o que nasce.
Há as lideranças musculadas, as frouxas. As musculadas apoucam-nos, as moles envergonham-nos, as tíbias aborrecem-nos, e, de entre elas, venha o diabo e escolha.
Ao longo da vida, tive, e convivi, com várias, com as autoritárias e com as bambas. Umas, não deixaram saudades, outras, tenho-as bem presentes, e resguardo-as de qualquer afronta, não as quero contaminadas. Respeito-as a todas, por igual. Mas só algumas me inspiram.
Há lideranças que preferia nunca ter tido, as altivas, distantes, comicieiras, demagógicas, sem rede, fúteis, balofas, vazias. Prefiro as lideranças clarividentes, esclarecidas, persuasivas, diligentes, inteligentes. E presentes. As que dão a cara, que aguentam contrariedades e murros no estômago. Mas não se escondem. As que sabem dizer não. Há lideranças que são um presente envenenado. Há lideranças desabituadas dos bons costumes. Não empolgam, lamentam-se, não caminham, arrastam os pés, criam problemas, em vez de encontrarem soluções. Choram, babam-se, queixam-se.
As boas lideranças escolhem boas equipas. Há lideranças que já nasceram cansadas. Há lideranças jovens que trazem esperança, músculo e rasgo, inovação. E há as que, apesar de novas, não se livrando de amigos inconvenientes, de vícios antigos e práticas rançosas, são ferro-velho.
Faz parte.
Rebelo Marinho