Com as eleições autárquicas no horizonte próximo, penso que o modelo em vigor está fora de moda. Esgotadíssimo. No caso, não me movem interesses partidários, mas tão só o funcionamento dos órgãos e uma visão escorreita do que deve ser o poder local democrático.
Esse entendimento pode ser óptimo do ponto de vista das minorias, que passam a ter voz activa, mas cria entropias à governação. Seria simples, e o simples seria replicar à escala municipal o modelo nacional.
1. Eleições apenas para as Assembleias Municipais. O partido ou o movimento vencedor da disputa eleitoral compunha por inteiro o executivo municipal, que seria liderado pelo(a) cabeça da lista vencedora. Os vereadores do executivo poderiam, mas não tinham de ser oriundos da Assembleia Municipal. O presidente teria liberdade para a constituição do executivo. Desse modo, nas câmaras municipais devia estar presente apenas e só quem ganhou as eleições. Quem ganha, deve governar, segundo o seu programa. O resto é dar palco à confusão. O governo local não deve reflectir o método de Hondt. A oposição que, em minoria, na prática, vale zero, ganha as senhas de presença, e só empecilha. E, por nada fazer, e nada ter com que se preocupar, rabisca uns apontamentos, apresenta projectos tontos, e dedica-se ao negócio dos imbecis: intriga e vitimiza-se. A oposição no executivo camarário só estorva. E tínhamos a vantagem de sermos poupados ao choradinho do costume, de que não servem para nada. Deixavam de existir os Calimeros, os coitadinhos.
Para melhor se perceber a balbúrdia de que falo, atente-se no que foram os governos provisórios, pós-25 de Abril, e na sua nula eficácia. Ainda assim, isso aconteceu num contexto sócio-político muito condicionado, o que suaviza um pouco a avaliação negativa que mereceram, num juízo isento e expurgados dos fervores abrilistas.
2. Reforço dos poderes de fiscalização e de controlo das Assembleias Municipais – o parlamento local -, com representação das forças partidárias, eleitas, segundo o método de Hondt.
3. As Assembleias Municipais seriam compostas apenas por membros eleitos, acabando com as inerências, que não fazem sentido, alargando-se a sua composição. É uma manipulação dos mandatos e uma subversão do que deve ser a representação parlamentar. Uma distorção da essência de um órgão fiscalizador. O presidente de junta foi eleito apenas e só para a Assembleia de Freguesia. A que título está, então, na Assembleia Municipal? É normal que nesta tratem dos assuntos da sua freguesia, o caminho, o chafariz e a valeta mal feita. Mas isso é curto. Esses assuntos devem ser tratados em reunião com presidente de câmara.
4. Terminar com a limitação dos mandatos, ou, se o princípio for bom e tiver dado provas, torná-lo extensivo a todos os membros eleitos dos respectivos órgãos, e também aos deputados à Assembleia da República, os reis da corte, que, não tendo quem lhes controle a eternidade, também não encontram quem os recicle.
5. Simplificação do processo de candidaturas independentes, com a eliminação do número de assinaturas dos proponentes, acabando com os 50 para o órgão de freguesia e os 250 para o órgão municipal.
Desde que as candidaturas preenchessem os lugares previstos para cada órgão, tal devia ser bastante para a sua formalização. Razões para nada disto merecer apoio, encontramo-las, serenamente, nos aparelhos partidários que convivem mal com a perda do empregozinho e nos legisladores, de todos os quadrantes, que, julgando em causa própria, se autobeneficiam com os lucros da asneira e os ganhos da cegueira.
O exemplo da eternidade no cargo dos ilustres deputados da Nação, sem limites de mandatos, é elucidativo do modo comprometedor como julgam em causa próprio e decidem dos seus destinos. Em 50 anos de democracia, estes senhores, a elite enfeudada, encontrou sempre forma de se proteger. E, pior do que isso, encontrar maneira de, esquecendo divergências, formar maiorias qualificadas que os beneficiam. Depois, admiram-se que haja descontentes e que cresçam os fundamentalismos. Mais cedo do que se pensa, alguém com créditos dará uma sapatada neste sistema que, em lenta agonia, se vai desfazendo, pagando favores e beneficiando os amigalhaços.