A nossa região ardeu de novo. Sim, o que tinha ardido em 2017 nos concelhos de Arganil e Oliveira do Hospital voltou a arder.
Muitos avisaram que isto voltaria a acontecer, principalmente, vários autarcas. E foi triste ver o Primeiro-ministro a discursar na sua festa partidária e apontar 3 únicas falhas: condições climatéricas, negligência no uso do fogo e criminalidade. Todos sabemos que não se trata só disto.
O Luís diz estar solidário, eu também, estamos todos. Mas que será que basta com isto?
Durante o período crítico dever-se-ia ter reforçado o pedido de ajuda a Marrocos (que deve ser dos países mediterrânicos mais calmos relativamente aos incêndios, por enquanto), já deveríamos ter batido à porta dos nossos países amigos da Europa, de fora da Europa, porque estávamos a meio de agosto, falta ainda setembro e falta ainda outubro. Precisamos de ajuda nestas alturas, é a própria Ministra da Administração Interna a dizer que não há meios suficientes, então, estávamos à espera do que? Que o calor acalmasse?
Faltou coordenação, menos centralismo nos Teatros de Operações. Deixar mandar a quem conhece o terreno, deixar coordenar a quem está junto das populações todos os dias. Ouvimos Presidentes de Câmara e bombeiros a dizer que foi tudo uma falta de organização terrível, mas afinal não aprendemos nada?
Falta pensar no problema durante o ano todo. O Estado tem que investir na floresta e deixarmos este processo de tentativa de legitimação em que a indústria será a salvadora da pátria porque a floresta deles não arde, não há tempo para isso, não há tempo para passar por esse processo. O Estado precisa de meter pessoas na floresta durante o ano todo, precisa de limpar e cuidar durante o inverno e precisamos de um grande aparato de vigilância nas nossas florestas, sim, precisamos de vigiar a floresta de maio a outubro. Precisamos de vigilantes durante os meses quentes, de mais postos de vigia, de equipas de sapadores por todo o país, a floresta precisa de investimento do Estado de forma urgente.
O Governo apresentou propostas para resolver às necessidades das populações afetadas, mas pouco apresenta para o futuro da floresta. Planos para 25 anos? Vamos arder mais 3 ou 4 vezes. O maior partido da oposição, o Chega, para além da sua mononarrativa penalista, agora quer que não se trabalhe e que não sejam feitos negócios nesses terrenos ardidos durante 10 anos, convido o Chega e o André Ventura a visitar terrenos em Santa Comba Dão, Carregal, Tábua, terrenos que arderam, que ficam ao abandono e hoje são um autêntico barril de pólvora com a regeneração natural do eucalipto. Ora, teorias da conspiração, negócio escuros, cá vem o Chega dar resposta enquanto a verdadeira reforma fica por fazer.
O Luís esteve no Pontal, na sua festa partidária, e desculpem-me, mas custou ver. Custou ver que o Luís tinha preparada uma panóplia de anúncios de investimentos e não teve a coragem de voltar para trás, de olhar para a metade do país que ardia.
Ardeu também o país vizinho, o território espanhol teve vários fogos importantes de grande dimensão. Ardeu a Galiza, ardeu a zona raiana com Portugal, ardeu uma aldeia no município de Monterrei, A Caridade, bem pertinho da fronteira.
Ouvimos e vemos todos os dias as pessoas afetadas, a voz da impotência, do medo, de uma vida destruída. Sofrem as pessoas, sofrem os bens, a flora evapora-se e a fauna desaparece.
Falta ação, muita.
Foto Manuel Malva