A Saúde do Monsieur Macron

Ou seja, as políticas neoliberais de Macron, talvez visando evitar a tomada de consciência da realidade por parte dos utentes, apostam nestes graduais e crescentes subterfúgios para atingir essa privatização, que surge assim envergonhada, mas eficaz no ganho quotidiano de terreno para atingir tal fim.

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  • 11:47 | Sábado, 23 de Julho de 2022
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O estado da Saúde em França já terá visto melhores dias. Os disfuncionamentos institucionais parecem estar na ordem do dia, quer se trate de inadequados tratamentos para com pessoas idosas, quer seja para com crianças ou para com pessoas portadoras de deficiência. Em suma, os mais frágeis e mais desfavorecidos.

Estes “abusos”, com origem social e política, verificam-se quando uma instituição de serviços falha no bom exercício das suas concretas atribuições ou quando gera mal-estar nos utentes.

O mensário « Le Monde Diplomatique », na sua edição de Julho traz um clarividente artigo do jornalista Gilles Ballastre, intitulado «La mine d’or de l’e-santé».


Segundo o autor, surgem em França instituições bancárias específicas para o “acarinhamento” e suporte dos novos e-empreendedores, aproveitando todas as disponibilidades do Plano France 2030 e visando «apoio aos sectores estratégicos que são o turismo, a cultura, a cybersegurança e a saúde“.

 

 

Neste último domínio específico, com a benção governamental, têm surgido start ups milagrosas a esmo, tais como : H4D que propõe para um exame clínico «uma solução única que aproxima os pacientes e os médicos por videoconferência », através de « cabines de tele-consulta»;

Nouvel e-santé que traz «soluções para monitorizar o percurso do paciente, desde a admissão ao hospital ao tele-acompanhamento ao domicílio»;

Doctopsy uma “plataforma de video-consulta médica especializada nos domínios da psiquiatria, da adictologia e da nutrição»;

Medaviz «disponibiliza soluções para todos os colaboradores da área da Saúde, visando facilitar o acesso aos cuidados para todos: regulação dos cuidados não programados»;

Happytal, para quando as camas não chegam, «especializada na melhoria do dia-a-dia dos pacientes, espécie de porteiro que vende o acesso às camas individuais do hospital público”;

Telegrafik, para as situações de dependência propondo «soluções conectadas para envelhecer bem”;

Botdesign fornece «uma transmissão de dados do paciente ao cuidador, visando optimizar o tempo dos cuidadores mas também aumentar a sua eficiência»;

Naox, para quando os serviços hospitalares entram em asfixia, desenvolveu uma tecnologia  à base de «fones dissimulando um sistema de ruptura, que fora do hospital permite seguir as perturbações neurológicas»;

Willo, que tem como alvo as crianças e implementa «o meio mais eficaz de lavar os dentes, 100% automatizado e quatro vezes mais rápido que uma escova de dentes eléctrica »… e etc.

Segundo Ballastre, «algumas destas aplicações poderiam ser úteis num quadro de serviço público, mas o seu desenvolvimento em tal contexto de pauperização da saúde apenas acentua a deriva tecnocrática e através dela a privatização deste serviço público. »

Ou seja, as políticas neoliberais de Macron, talvez visando evitar a tomada de consciência da realidade por parte dos utentes, apostam nestes graduais e crescentes subterfúgios para atingir essa privatização, que surge assim envergonhada, mas eficaz no ganho quotidiano de terreno para atingir tal fim.

Embuste ou maravilhas da tecnologia para bem da eficácia? O tempo o dirá…

 

(Fotos DR)

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Publicado em Opinião