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Ondina Freixo
Finais de Julho de 1990, esperava ansiosa a minha colocação como professora efectiva. Naquela altura não havia Net, não havia telemóvel e a informação que as colocações tinham saído chegou-me pelo telefone.
Isolada na Nave, não sabia como ter acesso à informação o mais rápido possível, porque a minha ansiedade não me permitia esperar até que essa informação chegasse à escola, onde nesse ano estive colocada e que também era a escola onde eu desejava efectivar – Escola Secundária de Moimenta da Beira.
Foi a minha irmã que sabendo da minha aflição, me deu o número de telefone de um sindicato que nos davam a informação. Liguei, esperei algum tempo, que para mim pareceu uma eternidade, até que do outro lado da linha, depois de me identificar, me informaram que tinha sido colocada na escola 580. Não era esse o número que eu queria ouvir! O número que me deixaria a dar pulos de contentamento era o 360 não o 580!!! Repetia ao telefone vezes sem conta: onde fica isso?!! No Fundão. Não acredito! Eu fui colocada no Fundão! Do Fundão apenas sabia que ficava perto da Covilhã.
Chorei baba e ranho durante esse verão e sempre que olhava para a minha filha de um ano não queria acreditar que daí para a frente muita coisa ia ter que mudar.
Tentei o destacamento alegando situações verdadeiras e outras nem tanto! Eu apenas queria ficar numa escola onde havia vaga e que posteriormente foi preenchida por uma aluna com o 12º ano! Não consegui o destacamento alegando a Direcção Regional de Educação do Centro que era do interesse público ir para o Fundão. E lá vou eu de malas aviadas com o coração cheio de mágoa e ressentimento contra um sistema que pelo facto do meu marido não ser funcionário público, não me permitia aceder aos destacamentos ao abrigo da lei dos cônjuges. Por brincadeira costumava dizer que pertencia ao grupo das mal casadas!
Chegada ao Fundão o choque ainda foi maior quando recebi o meu horário que começava segunda-feira às 8.30 e terminava sábado ao meio dia! Naquele momento não tive um treco, porque o nosso corpo aguenta embates que nós nem sequer imaginamos.
Eu fazia contas mentalmente e contabilizei 28 horas por semana para estar com a minha filha. Esse horário também era nocturno, o que impossibilitava que a minha filha me acompanhasse.
E é aqui que começa a entrar em acção a minha amiga Natália! Durante esse ano muitas vezes me repetiu que nunca tinha visto ninguém tão chocado ao receber um horário, e que por isso a partir daquele momento jurou a si própria que tudo faria para me ajudar.
Nesse dia regressei a casa e mal acabei de chegar recebo um telefonema a proporem-me umas mudanças que me iriam arranjar o horário (mais uma turma à noite). Tudo bem! respondi prontamente.
Passados uns dias a minha amiga Natália foi eleita coordenadora dos directores de turma do secundário e tinha que deixar a turma do 12º ano, assim como a direcção de turma, como já tinha 12º ano à noite, essa turma veio para o meu horário. A coisa estava a compor-se! Sempre com a presença atenta da minha amiga Natália! 12º ano! Nunca dei! Não te preocupes eu ajudo-te, respondia com ar cúmplice a minha amiga. E ajudou a preparar o 12º ano, alertando-me para o que era mais importante e para os conteúdos que deveria abordar com mais ligeireza. Facultou-me um dossier com acetatos, fichas e testes e esclareceu-me as dúvidas que ia tendo ao logo do ano. Mas muito mais importante do que tudo isto, foram as nossas noites de quarta-feira!
As quartas-feiras eram um dia terrível porque não era terça, para eu me poder animar ao pensar: ainda vim ontem, nem quinta para poder pensar: já vou amanhã! Todas as quartas eu ia a casa da Natália (nunca lho disse, mas ela sabia que esse dia era terrível para mim) preparávamos aulas, ríamos, a Natália é uma daquelas mulheres com um sentido de humor que reflecte a sua paz com a vida, e até fez uma tentativa para me ensinar a bordar o famoso bordado de Castelo Branco, que ela dominava com mestria. Por volta das onze horas o marido da Natália chegava e preparava o nosso chá com bolinhos, que me aquecia a alma para mais dois dias de ausência.
Quando são publicados os resultados dos concursos de professores lembro-me da Natália e espero que aqueles colegas que possivelmente estão a passar por uma situação como a do meu verão de 1990, encontrem uma Natália no seu caminho. Eu sei que elas existem. É preciso ter sorte para as encontrar! E eu tive! Bem-haja amiga
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