A bela Inês

Preocupada com a questão da habitação, em entrevista a uma emissora de rádio, defendeu a ocupação da ponte 25 de Abril com tendas, até os manifestantes serem ouvidos, provavelmente, por uma assessora, porque ministro não recebe manifestantes "insurrectos" e em desordem.

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  • 15:41 | Segunda-feira, 13 de Fevereiro de 2023
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Inês Alexandre é empreendedora e activista. Duas virtudes que rareiam e que, quando abraçadas, poderão dar frutos reconhecidos e apetecíveis. E ainda tem a qualidade de ser jovem, com as virtudes e os defeitos que esse estado de graça comporta e arrasta.

Acontece que, por essas e outras qualidades, foi nomeada assessora da ministra do Trabalho e da Segurança Social para a área que mais domina, a inovação e o empreendedorismo, questões que estão na moda e que seduzem quem quer ser, ou parecer, diferente.

Nos dias de hoje, é meio cartão de visita e meia carta de recomendação para uma empresa ou para um lugar público. O resto, logo se verá.


Preocupada com a questão da habitação, em entrevista a uma emissora de rádio, defendeu a ocupação da ponte 25 de Abril com tendas, até os manifestantes serem ouvidos, provavelmente, por uma assessora, porque ministro não recebe manifestantes “insurrectos” e em desordem.

A senhora estaria longe de imaginar na altura que os seus méritos na área da inovação social seriam bastantes para uma entrada num gabinete ministerial. Mas são tantos, que foram. E eis como num estalar de dedos temos o “PREC” instalado no governo, qual cavalo de Tróia, desejoso de resgatar o passado e esmagar por dentro as entranhas ao adversário, dilacerando-as até ao último estertor.

 

Pena que não tenha sido recrutada para o ministério da Habitação onde decerto faria tremer a titular, substituindo-a até, mercê das propostas inovadoras, que julga ter.

Quando ouvi Inês no seu desassossego, lembrei-me de Gomes da Silva, ministro da Agricultura de António Guterres, que, chamando os jornalistas, se abancou com um prato de mioleira de vaca, em pleno período da doença das vacas loucas, contrariando recomendações médico-sanitárias.

Ambos foram ousados, ambos romperam muros, ambos foram algo imprudentes. Não pagamos a governantes, muito menos a assessores, para fazerem aquilo para o que o coração os puxa, mas antes para aquilo que o país exige…e espera.

Que a sr.ª dr.ª refreie os seus impulsos, é o mínimo que o fardo lhe impõe, aguardando, entretanto, que os anos lhe dêem o que, naturalmente, parece ainda não ter.

Já agora, pergunto-me se terá passado pelo crivo das 36 questões, ou se estas não contemplam aspectos de perfil: sobriedade, contenção, equilíbrio, maturidade. Também são relevantes.

Pelo arrojo, merece escrutínio o desempenho desta jovem e desempoeirada senhora. E veremos até onde vai a inovação, ou se ela fica presa nos espartilhos em que todo o poder é fértil. Dominada e esquartilhada pelo lobbies e pelo aparelho.

 

(Fotos DR)

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Publicado em Opinião