29,8 milhões de pessoas vivem em escravidão

Já Aristóteles dizia: “A democracia acomoda-se com a anarquia dos escravos“. O berço da democracia teve, nas suas origens, duas grandes limitações: “a escravatura e a condição inferior atribuída à mulher” (André Bonnard, A Civilização Grega, Edições 70). A “exploração do homem pelo homem” tem-se perpetuado ao longo da história da humanidade, assumindo as mais […]

  • 13:27 | Quinta-feira, 23 de Janeiro de 2014
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Já Aristóteles dizia: “A democracia acomoda-se com a anarquia dos escravos“.

O berço da democracia teve, nas suas origens, duas grandes limitações: “a escravatura e a condição inferior atribuída à mulher” (André Bonnard, A Civilização Grega, Edições 70).

A “exploração do homem pelo homem” tem-se perpetuado ao longo da história da humanidade, assumindo as mais diversas, horrendas e inqualificáveis facetas.


O escravo não era considerado um ser humano, não passava de mera “ferramenta” ao serviço de alguém, podendo ser vendido, alugado, espancado, aprisionado…

A realização de leilões de escravos foi prática comum, enriqueceu muitos traficantes e contribuíam para a prosperidade dos seus “donos”. A violência exercida sobre os escravos é difícil de descrever. Porque uma imagem vale mais do que mil palavras, sugiro uma ida ao cinema para ver o filme 12 Anos Escravo, realizado por Steve McQueen, que retrata a vida de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um negro livre, que vive um pesadelo quando, após uma noite de copos, acorda acorrentado, tornando-se escravo. Alerto, desde já, para a violência do filme. Uma senhora saiu ao intervalo a carpir copiosamente. A brutalidade dos maus tratos e o massacre psicológico marcam fortemente toda a narrativa. Não gostamos, em regra, de falar dos nossos podres, mas também nós, portugueses, fomos, enquanto colonizadores, um povo esclavagista. O historiador Joaquim Magalhães, na História de Portugal,Vol. 3, coordenada por José Mattoso (Estampa), num capítulo intitulado A Sociedade, informa: “Abaixo do ordenamento social admitido, privados de liberdade e de quaisquer direitos, os escravos. A partir dos primeiros resgates na costa africana (1444) começa a vir para o Reino uma grande massa, que vai aparecer a desempenhar as mais duras tarefas. (…) Os escravos pululam por toda a parte. (…) Há indivíduos que fazem bons lucros com a venda dos filhos das suas escravas (…) Os maus tratos e as mortes violentas de escravos não serão raros. (…)

A escravatura, em pleno século XXI, continua a existir e os números são aterradores. Segundo a WALK FREE FOUNDATION, “Hoje 29,8 milhões de pessoas vivem em escravidão”. A maioria destas pessoas é traficada por grupos organizados para a exploração sexual e trabalho não qualificado. A origem é diversa, leste europeu, América do Sul, Ásia, África, rumando, em regra, a países ocidentais com bom nível de vida. O mediterrâneo, por exemplo, tem vindo a transformar-se num “cemitério” de africanos que, ao sonharem com um futuro melhor na Europa, se entregam, pagando muito, a mercenários que os “acamam” em embarcações frágeis, as “pateras” com altíssima probabilidade de alcançarem o destino. A viagem de travessia do Mediterrâneo é uma autêntica antecâmera da morte. Um dos investigadores da Fundação, Kevin Bales, concluiu que ” a corrupção, e não a pobreza, é a maior causa da escravidão, e recomendou leis para impedir a ação do crime organizado”. A ONU acredita que “uma em cada sete prostitutas é vítima das redes de tráfico e que haverá na Europa cerca de 140 mil mulheres escravizadas na prostituição.”

No nosso país, há bem pouco tempo tivemos notícia de que um grupo de romenos foi escravizado no Alentejo. A escravatura ganha novos rostos, petrificando-se no seio da sociedade, emergindo o “mal”!

Correndo o risco de ser apupado, deixo aqui um apontamento televisivo, há uma telenovela brasileira, da SIC, – A Guerreira – que retrata o tráfico de seres humanos, mulheres e crianças, a escravatura, a prostituição e o tráfico de droga. O submundo, o crime organizado e internacional que rende milhões a poucos e que destrói a vida a muitos.

A propósito, (ainda) não editado em Portugal, aproveitei uma ida a Salamanca para comprar o mais recente livro de Zygmunt Bauman, “¿La riqueza de unos pocos nos beneficia a todos?” (PAIDÓS)

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Publicado em Opinião