Se não tiver LED Matrix e infotainment… não compro!

  As tecnologias tomaram definitivamente conta das nossas vidas. Há dez, vinte anos, quando se comprava um automóvel, a preocupação maior prendia-se ou com a potência, ou com a segurança, ou com a fiabilidade, ou com a economia… Hoje, num conceito de mercado global, os mesmos motores, com as mais modernas tecnologias, se tiverem provas […]

  • 8:23 | Quinta-feira, 25 de Setembro de 2014
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As tecnologias tomaram definitivamente conta das nossas vidas. Há dez, vinte anos, quando se comprava um automóvel, a preocupação maior prendia-se ou com a potência, ou com a segurança, ou com a fiabilidade, ou com a economia… Hoje, num conceito de mercado global, os mesmos motores, com as mais modernas tecnologias, se tiverem provas dadas, são “adoptados” por várias marcas e não é de estranhar que a Mercedes já use nalguns dos seus modelos motores Renault. E isto é um banal exemplo. Por isso, os carros de idênticos segmentos têm todos análoga segurança, a mesma fiabilidade, igual potência e semelhante economia. As diferenças serão milimétricas.
É contudo interessante apreciar o surgimento de um léxico conceptualizado que decorre das novas mentalidades dos compradores. Então, é fácil, ao lermos informação especializada, depararmos com um texto em português onde proliferam palavras como: infotainment, incontrol wi-fi hotspot, supercharged, ingenium, downsizing, ASPC, all surface progresso control, head up display por laser, ecrã táctil de 8 polegadas, premium, suv, ZF, offroad edition, ESP, LED Matrix, MMI, Drive Select, suspensão adaptativa magnetic ride, cockpit digital, modo dynamic, configurção transaxle, autoblocante electrónico, speedshift DCT-7, linguagem do design Kodo… e etc., etc., etc.
Seria hoje difícil ao Senhor Costa do Covelo ou ao Senhor Santos da Escurquela fazerem a sua opção em função desta panóplia de inovações. Mas provavelmente os filhos deles já parametrizariam as suas escolhas em função da parafernália enumerada…
É estranho para nós, mais velhos. Tão mais estranho como eu contar ao filho do Senhor Santos, o Rúben Leonardo, que em 1975 quando dava aulas na secundária de Barrelas, que era uma subsecção da secundária de Lamego, porque os magros vencimentos demoravam três dias a mais a chegar-nos às mãos de eternos “tesos”, íamos num VW 1302 S buscá-los a correr. E que um dia, com a pressa e a estrada molhada, fizemos dois piões à saída de uma curva, caímos a um lameiro, ficámos de rodas para o ar, saímos lá de dentro a gatinhar, descobrimos um lavrador com um carro de bois que nos ajudou, com a bruta força animal a colocar o carro na sua posição natural e no sítio próprio, a estrada e, com lama e erva por todos os lados, as costelas doridas e mais umas mossas a adornar a carroceria, lá seguimos à mesma velocidade a buscar a massinha a Lamego…
Dá-me ideia que “alguma coisa” mudou e que em 40 anos avançámos no tempo o equivalente a três séculos de outrora. O problema, por vezes, é pormos a nossa centralina a receber estes chips de upgrades tão compatíveis com aquilo que é determinante no universo vivencial hodierno… transformando um mero automóvel num centro-quase-NASA de sofisticação tecnológica. E é essa a nova segurança! Ou não… porque atrofiámos completamente as nossas competências pessoais em detrimento daquela. E gradualmente, dela ficamos reféns.
Para rematar, o corpo de um novíssimo modelo de câmara fotográfica Leica, desenhado num único bloco em alumínio, é design Audi.
Percebeu, Senhor Costa? É o mercado global a interagir em todos os sectores com as suas “jóias da coroa” seja lá o que isso for!

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