Os dedos nus dos ricos

Em página nobre, de quarto corrido, um semanário nacional propunha em anúncio “avaliações gratuitas de jóias” por parte de uma grande empresa leiloeira internacional. No Porto (terra dos velhos-ricos). Disponibilizavam a sua perita portuguesa. Por marcação prévia, como no dentista. E iam enfeitando o anzol: “excepcional anel de diamante e safira griffée …………………, vendido por […]

  • 0:01 | Sexta-feira, 07 de Fevereiro de 2014
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Em página nobre, de quarto corrido, um semanário nacional propunha em anúncio “avaliações gratuitas de jóias” por parte de uma grande empresa leiloeira internacional. No Porto (terra dos velhos-ricos). Disponibilizavam a sua perita portuguesa. Por marcação prévia, como no dentista. E iam enfeitando o anzol: “excepcional anel de diamante e safira griffée …………………, vendido por X (mais de um milhão de euros).

As “avaliações são gratuitas e totalmente confidenciais”, tranquilizavam.

Pobres dos ricos. Já vendem os anéis, as gargantilhas, os broches, os brincos, as pulseiras… ficam os dedos e as artroses, os pescoços nus de gelha à mostra, os peitos desabrigados, as orelhas despidas, furadas e caídas e os pulsos limpos de algemas douradas.


É o despojamento franciscano…

Este anúncio não era para pobres.

Porque os pobres já vendem as mãos calejadas do trabalho. Algumas, o seu corpo, também. Já foram para penhora, ao Deus-dará, os parcos móveis e os usados electrodomésticos. Irá a casa de seguida porque o senhorio já ameaçou com uma acção de despejo.

O anúncio não era para pobres. Eles nem lêem semanários…

Um anel de diamante e safira… ninguém dá pela falta. Agora o Bentley Continental e o Mercedes Classe S, esses, a vizinhança nota.

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Publicado em Editorial