Conselhos estratégicos, modismos, ou cúmulos da banalidade?

  Estratégia foi outrora a forma/modo de conduzir a armada. Nunca tivemos tantos estrategas como hoje. Nunca houve tanto conselho estratégico de coisa alguma e nenhuma. Juntam-se uns pretensos notáveis da política; temperam-se com uns grãos de directores de instituições; acresce-se-lhes uma pitada de “estou-em-todas”; polvilha-se com 100 gramas de mangas-de-alpaca; deixa-se ferver em lume […]

  • 11:10 | Sexta-feira, 09 de Maio de 2014
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Estratégia foi outrora a forma/modo de conduzir a armada.
Nunca tivemos tantos estrategas como hoje.
Nunca houve tanto conselho estratégico de coisa alguma e nenhuma.
Juntam-se uns pretensos notáveis da política; temperam-se com uns grãos de directores de instituições; acresce-se-lhes uma pitada de “estou-em-todas”; polvilha-se com 100 gramas de mangas-de-alpaca; deixa-se ferver em lume brando durante 60 minutos; coa-se com mão sábia a calda e aí temos uma caldeirada de tremoços com amendoins & espinhas para o “desenvolvimento do envolvimento regional da região. “
Perceberam? Eu também não.
Os egos são afagados, estabelecem-se uns contactos político-empresariais e surgem as carantonhas nalgumas páginas de jornais.
Este pós-reduto de Parnaso é uma ínsula divina. Juntam-se os semi-deuses e os pré-deuses às ninfas inspiratórias ou inspiradoras, e dizem-se umas patacoadas do tipo:
A demografia é uma aflição… A desertificação, pois não. O futuro… esse a Deus pertence.
Ouvir um secretário de Estado de nome qualquer-coisa-Lomba e ar um pouco “new wave troglodita recém-saído da jota” afirmar convicto estas pérolas:
O défice demográfico do país é uma situação de emergência.”
“Esse défice é do interior deve ser classificado como foi nos últimos 3 anos a emergência financeira.”
O interior é vítima particular desse défice demográfico, dessa crise demográfica, a desertificação, a crise de natalidade, a crise de perspectivas e não vale a pena ter ilusões porque nenhum défice demográfico se pode combater apenas com uma receita, com um instrumento, com uma política. É preciso – e aí vai a palavra mais uma vez – é preciso consertar um conjunto de políticas que vão desde a política social à política da família, à política económica, à política migratória.”
… é ter vontade de retorquir: “ Não estudaste a lição, pá! Tens o disco riscado…”
Ouvir o grande líder central, Almeida Henriques reiterar, cinéfilo e inspirado:
Nós estamos num filme de 3 partes do qual só vimos a primeira parte; sabemos já o intróito, sabemos mais ou menos qual vai ser a história que vamos desempenhar e estamos muito expectantes em relação ao final e à 2ª parte do filme: é saber qual vai ser o modelo, como vai ser governado o novo Portugal 20-20…”
… é perceber, passante a confusão das partes, e à laia de sumo de laranja final, que num país sem expectativas, este líder está expectante. Ponto final (intervalo para bocejar).
Ao fim, naturalmente, bebeu-se uma garrafa de água do Caramulo (os que não levavam chauffeur tinham que conduzir), bateram-se palmas, deram-se abraços, combinaram-se jantares e trocaram-se números de telemóvel.
Cumpriu-se a agenda.
Acta est fabula (“Está representada a peça” – para os que não andaram no Seminário nem são dados às Humanidades…).

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