Não via há muito situações sociais — cada vez mais recorrentes — nas quais a partilha de posições de discordância em plurais matérias: desportivas, artísticas, religiosas, ideológicas, et al, fosse razão e motivo para hostilidades e aversões.
Não temos que ser unânimes, porque isso é para países como a Coreia do Norte, por exemplo, onde a diferença de gostos e de opiniões é severamente punida. Reprimida. Suprimida. Letal.
Se fôssemos todos do Sporting, ou do Benfica, as outras equipas não tinham razão de existir e o futebol desaparecia enquanto salutar desporto e competição.
Se apenas apreciássemos Paula Rego ou Júlio Pomar, teríamos uma visão afunilada e redutora sobre a pintura contemporânea portuguesa.
Se todos partilhássemos a mesma religião, num fundamentalismo indigno, ou perdêssemos o direito de ser ateus, criaríamos uma redutora e limitada visão teológica.
Não tarda, andaremos todos de costas voltadas, desconfiados, censurados e censores, inimigos e oponentes daqueles que há bem pouco tempo críamos cidadãos com quem nos entendíamos no pleno respeito dos gostos, opiniões, crenças e credos.
Esta é a sociedade da divisão, da apartação, do ressentimento e da raiva.
Dividir para reinar é quase sempre pedra que ricocheteia e os seus adeptos, mais cedo ou mais tarde, serão vítimas daqueles que tentaram vitimar.