O “canibalismo” partidário

Hoje, os adversários políticos confundem-se e contundem-se na "guerrilha civil" com figadais e monstruosos inimigos que é necessário derrubar a todo o custo.

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  • 11:36 | Sexta-feira, 15 de Outubro de 2021
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Longe vai o tempo em que os partidos políticos tinham os inimigos, que não os adversários, fora de si e do seu seio. Aqueles tempos em que o ódio cego e açulado por ideologias bafientas ou radicais atacava e queimava sedes, colocava bombas e matava líderes, como por mero exemplo, Francisco Sá Carneiro, cujo atentado nunca os investigadores quiseram ou puderam deslindar.

Hoje, os adversários políticos confundem-se e contundem-se na “guerrilha civil” com figadais e monstruosos inimigos que é necessário derrubar a todo o custo.

Basta ver o que se passa no CDS-PP e no PSD.


No primeiro, congregam-se esforços e contam-se carabinas para derrubar Francisco Rodrigues dos Santos. Eles são os Melos, os Mesquitas, as Meireles, os Almeidas… mais uma lista infindável de putativos “senadores” emergentes da que dizem ser consciência crítica da democracia cristã.

No segundo e para o congresso de 6 de Dezembro próximo, emerge agora Paulo Rangel para derrubar Rui Rio, depois de Luís Montenegro se ter em vão esforçado e após o Conselho Nacional ter rejeitado a proposta da sua direcção, por 70 votos contra, 40 a favor e 4 abstenções, para adiamento das directas e do Congresso para depois da aprovação do Orçamento de Estado.

Isto e não obstante termos Rio a explicar que poderíamos estar perante “a iminência de uma crise política grave” que poderia “conduzir o país a eleições antecipadas” mais acrescentando “Se tivermos eleições legislativas, Portugal quer um PSD em condições de combater o PS e de fazer eleições completamente normais, coisa que não acontecerá se o Conselho Nacional não ponderar o adiamento da marcação de diretas e Congresso”.

Tal atitude levou os seus adversários a falar em desespero de Rio, que, segundo eles, está agarrado ao poder com todas as suas forças.

No PS, Costa aguarda até ao fim, num esticar de corda já muito tensa, o apoio dos partidos de esquerda, que parece não vir dos renitentes PCP e BE, levando o PS a encarar a hipótese de eleições antecipadas o que, na pior das perspectivas, poderia ser muito favorável e conveniente ao actual primeiro-ministro, com o PCP e o BE a tentarem demarcar-se do governo para não serem por tal mais penalizados do que já foram, embora, se o governo cair pela sua recusa de aprovação do OE, a sua “punição” por parte de um eleitorado mais flutuante possa ser muito maior.

Os líderes gastam hoje mais energia a combater os opositores internos do que a fazer oposição ao partido que governa e que, naturalmente todos querem apear. Enquanto se canibalizam, naquilo que é, também, uma prova da dinamismo democrático, quase nos fazem lembrar as lutas fratricidas da Iª República, que conduziram a quatro décadas de Estado Novo.

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