O autarca do século 21

O autarca do século 21, enquanto decisor qualificado e esclarecido (o que falta em Viseu desde 2013), ao ter em mente que o seu território será aquilo que decidir fazer dele em prol do colectivo, ao depender da sua competência e criatividade, ao resultar da sua capacidade de saber ouvir o artista – no mais amplo sentido da palavra – fará dele e da obra que dele resultar, exemplo e paradigma do autarca do futuro.

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  • 17:19 | Sexta-feira, 29 de Janeiro de 2021
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Se a mutação é um processo evolutivo e/ou regressivo normal, a mutabilidade é uma mutação acelerada, em alguns casos, vertiginosamente acelerada.

Viseu, o concelho, apesar do recuo demográfico que se tem acentuado na região, cresceu na primeira década deste século de 80 para aproximadamente 100 mil habitantes. Não por natalidade mas por migração oriunda dos concelhos circundantes em busca de uma vida melhor – que hoje em 2021 sabemos não terem encontrado – com consequente desertificação das áreas de origem.

Os novos residentes, ao ficarem na periferia urbana, mais acessível, deslocalizam os pólos habitacionais de Viseu para além do já existente, agravado o facto por uma população residente no núcleo urbano envelhecida e empobrecida. A título de exemplo, uma das principais artérias da cidade, a Rua Formosa, hoje terá duas dezenas de residentes, o resto é comércio resistente, bancos, escritórios e consultórios. Ou seja, com um cenário de movimentação pedonal relativa e diurna.


Elencamos aqui 10 realidades:

R1 – A demografia —» em 2030, 1 em cada 4 pessoas, na Europa ocidental terá mais de 60 anos. Esta realidade carece imperiosamente de um olhar novo.

R2 – O conhecimento e o desenvolvimento tecnológico ganham força e importância desiguais.

R3 – Surge uma nova economia —» a do conhecimento, estabelecendo-se o conceito de que as ideias são bens transacionáveis.

R4 – Verificou-se o surgimento de um poder novo, o poder do cidadão, em redes de pertença e de colaboração.

R5 – O novo poder não é controlável pelos governos tradicionais.

R6 – Com a evolução vertiginosa do conhecimento, ele torna-se efémero, levando à emergência de um novo conhecimento – o da adaptabilidade.

R7 – A crescente importância das cidades e o aumento de poder dos governos locais, carreando um pensar diferente e uma mudança estrutural da economia.

R8 – A percepção e a assimilação de que hoje não é importante ser maior. É-o ser melhor. Por isso, há que investir na sustentabilidade e na inovação social.

R9 – Interpretar e entender a cidade, hoje, como Academia, no valor etimológico do termo e conceito, capacitada para uma profunda regeneração social. Hoje, a cidade é um cluster. A cidade tem que se apresentar como paisagem criativa. Uma cidade que produz e gera cultura (não a reproduz), entendendo-se até que é a cultura que faz a cidade, é uma aquela que aposta na matéria cinzenta, hoje geradora de maior riqueza que a matéria prima.

R10 – A requalificação para a criação de novos espaços de atractividade a partir da recuperação e regeneração do existente. Gerar a atractividade da rua (quando tal voltar a ser viável) emparceirada com residentes, investidores, visitantes, estudantes e trabalhadores, em geral. Há uma identidade, é imperioso criar uma imagem e passa-la para fora como marca, sem despesismos ineficazes e megalómanos, com um marketing novo, atraente, estimulante, chamativo, sem recorrer aos estereótipos cosméticos e/ou maquilhagem como decoração do já existente. Pensar profundamente o que já existe e adaptá-lo às novas realidades e às suas exigências, com base no conceito de que desenvolver é sempre melhor que crescer. A cidade é um produto. A cidade é um destino. A cidade é uma marca – a Viseu Marca como foi implementada, polarizada em personagens ávidas de protagonismo e não na realidade urbana, tornou-se um flop.

A cidade deve pois:

A – Fomentar clusters de inovação;

B – Criar ambientes empresariais amigáveis do empreendedorismo.

C – Investir em educação, formação e aprendizagem contínua e em moldes diferenciadores.

D – Desenvolver profícuas e concretas infra estruturas de investigação.

E – Ter uma agenda digital para a região constantemente monitorizada nos seus resultados.

F – Promover interna e empenhadamente as indústrias culturais e criativas, pelo mérito e não pelo amiguismo.

G – Atrair massa cinzenta.

 

Em suma, um artista genial não poder preço porque a sua obra pode ser substracto gerador da atractividade e riqueza para o presente e para o futuro.

A ideia não pode ter preço porque as suas “consequências” podem ser a essência da vitalidade e da qualidade de um território.

O autarca do século 21, enquanto decisor qualificado e esclarecido (o que falta em Viseu desde 2013), ao ter em mente que o seu território será aquilo que decidir fazer dele em prol do colectivo, ao depender da sua competência e criatividade, ao resultar da sua capacidade de saber ouvir o artista – no mais amplo sentido da palavra – fará dele e da obra que dele resultar, exemplo e paradigma do autarca do futuro.

Viseu não se engrandece com inócuos chavões e com inoperantes ideias – algumas até com pernas para andar se fossem conclusiva e estrategicamente funcionalizadas – Viseu precisa de um autarca de muita proximidade com a realidade existente e, fundamentalmente, com as necessidades dos seus munícipes. Depois de o ter conseguido, operativamente, terá condições para anexar outros “módulos”…

 

(Este texto foi escrito em 2011 e, com ligeiras adaptações, aqui se reproduz)

 

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