Negócios da China

Portugal comprou à China 508 ventiladores, pagando no acto da encomenda aquilo que lhe foi exigido, ou seja, 9,2 milhões de euros. Já deviam já ter chegado. E não chegam.

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  • 21:59 | Sexta-feira, 17 de Abril de 2020
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Forçoso me é começar por uma declaração de interesses: Nada de pessoal ou de político me move contra a China ou qualquer outro país do mundo.

Tal assente, vamos aos factos:

Portugal comprou à China 508 ventiladores, pagando no acto da encomenda aquilo que lhe foi exigido, ou seja, 9,2 milhões de euros. Isto aconteceu num contexto de emergência e foi firmado há 25 dias.


O governo português ao assegurar o negócio, pelos vistos e até melhor prova, não acautelou contratualmente os prazos. O que levou os chineses a ignorarem a encomenda depois de meterem o dinheiro na conta. Na verdade, um montante que para eles será “meros tremoços”.

Sabe-se que os EUA, o Brasil e o Canadá terão feito idênticas encomendas aos mesmos fornecedores. Ignora-se se as pagaram ou não. Provavelmente sim. Ou seja, nada nos impede de conjecturar que poderão os chineses ter vendido o mesmo material a quatro compradores e terão recebido deles todos.

A ministra da Saúde, pesarosa, vem semana após semana anunciar que para a semana é que chegam. E não chegam… Quando o pudor a tolhe, manda em sua vez o secretário de Estado da Saúde dizer que… chegam para a semana.

Entretanto, invoca-se – ah que santa ingenuidade! – uma conveniente alteração da legislação chinesa no âmbito das alfândegas, ou nos procedimentos alfandegários, ou nos transportes. Ou.

Lol…

A entrega efectivamente não foi feita e a China, eventualmente o país gerador e propagador da epidemia, parece afinal muito ter a lucrar com o Covidis19 e os negócios colaterais dele gerados.

No concreto, em Portugal, o SNS tem 1.140 ventiladores, o privado terá 250 e, com as doações efectuadas, haverá mais de 1.500 ventiladores ao serviço dos pacientes infectados pelo vírus.

Mas imaginem que não era esta a realidade e que os portugueses começavam a morrer por falta deles…

A quem imputar culpas? A ninguém. É hábito velho a culpa morrer solteira.

Dos chineses já todos percebemos a riqueza, a potência mundial que são, as estranhas práticas culturais e civilizacionais, entre outras na alimentação, que os levam a deliciar-se com as mais bizarras “iguarias”, que vão de cães e gatos de espeto a sopa de morcego, pénis de ovelha, testículos de frango ou cavalos marinhos fritos e milhentos outros produtos que, face à nossa cultura, nos contraem o estômago de náusea. Tudo bem. É lá com eles mas, se tal não prejudicar neste mundo globalizado, todos quantos não têm tais e tão repulsivos costumes. E pelos vistos prejudica…

De certeza é a sua consciência intranquila os levar a umas doações de máscaras (peanuts…) e a exportar algumas centenas de profissionais de saúde para os países mais atingidos pela pandemia, com uma mão lavando a outra.

Entretanto, a EDP dos chineses, pela voz do acólito Mexia, anuncia lucros de 519 milhões de euros. Ficamos mais descansados e lembramos que em outubro de 2011 foi a “China Three Gorges” a empresa privilegiada pelo Estado português para lhe vender 21,35% da EDP por 2,69 mil milhões de euros, em vigência do XIX Governo Constitucional encabeçado pelo primeiro-ministro Passos Coelho, em coligação com o CDS-PP encabeçado por Paulo Portas, tendo como ministros das Finanças e da Economia, respectivamente, António Pires de Lima (CDS-PP) e Álvaro dos Santos Pereira (PSD) e já agora, Paulo Macedo, ministro da Saúde, por alguns apodado de seu “coveiro”, o actual manda-chuva da CGD, muito amado pelos seus grandes accionistas.

E pronto, escusam de revirar os olhos cândidos ou de os pôr em bico, invocando a sabedoria e a paciência asiática… Afinal são todos meros “negócios da China”.

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