“Não viro costas aos portugueses!”

  Os detentores do Poder têm uma verdade deles próprios, pessoal, construída circunstancialmente com palavras alheias aos actos, hoje profusamente ecoadas por uma “oficial” comunicação social serventuária. Essa verdade fabricada, visa recobrir os actos praticados, reais e concretos de um adorno que lhes cubra, disfarce e esconda, cosmeticamente, a vileza emergente. Na classe política, em […]

  • 10:54 | Quinta-feira, 14 de Agosto de 2014
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Os detentores do Poder têm uma verdade deles próprios, pessoal, construída circunstancialmente com palavras alheias aos actos, hoje profusamente ecoadas por uma “oficial” comunicação social serventuária. Essa verdade fabricada, visa recobrir os actos praticados, reais e concretos de um adorno que lhes cubra, disfarce e esconda, cosmeticamente, a vileza emergente.
Na classe política, em geral, onde aparece percentualmente o maior número de charlatães, os discursos enunciados, pela sua proliferação, vacuidade, inextrincável “densidade”, opacidade, psitacismo, são o exemplo concreto de que demasiadas palavras negam e asfixiam a Verdade.
Os políticos, essa “classe profissional” desacreditada, fazem da distorção e abusiva interpretação/difusão da sua verdade um meio e modo de sustentação da iniquidade do seu agir. O pior ainda não é fazerem-no sem consciência do acto. O pior é estarem dele perfeitamente cônscios e servirem-se de todos os artificiosos recursos para darem à sua verdade – mais das vezes reles mentira – o esteio tão próxima e fundamental à dignidade humana.
Filosoficamente, a verdade não é o real. Mesmo quando se esforça pela sua fiel restituição. A realidade é independente do homem, a verdade é sempre da ordem do discurso ou ainda da representação e deve ser objecto de constante busca e procura, constituindo-se numa exigência e num valor. Qualidades improváveis de encontrar na “classe”.
A verdade é uma escolha. Podemos optar pelo erro, pela ilusão, pela mentira porque podemos gostar mais de outras coisas do que da verdade, por exemplo, do poder, do prazer… Podemos ainda recusar ver no esforço da razão em direcção à verdade o sinal da nossa dignidade de homens. No sentido platónico, a verdade define-se também pela sua permanência e universalidade, não devendo confundir-se com a inconstância e relatividade das opiniões humanas…
Hoje, dia 14 de Agosto, 5ª feira, o TC vai pronunciar-se – uma vez mais — sobre a constitucionalidade de normas emanadas do poder político. Aliás, será a 8ª ou 9ª vez que tal sucede neste governo. O que é sintomático da tentativa constante, persistente, teimosa de legislar o controverso, buscar o conflito e de agir contra a Lei.
Passos Coelho ameaçou demitir-se se o Tribunal Constitucional não aprovasse a CS, Contribuição de Sustentabilidade e os cortes salariais aos funcionários públicos, na sua obsessiva luta contra esta classe e contra os reformados portugueses. Foi um arroubo. Uma chantagem. Passados 5 segundos, num momento de sensatez bipolar, vestiu o Armani de Herói & Altruísta e proferiu com voz consistentemente grossa, como convém e compete para a sustentação de uma ancha mentira:
“Não viro costas aos portugueses!”
E esta é a nossa desgraça… Mas como o homem confunde todos os dias a verdade com a mentira, ainda há uma ténue esperança. Para já, virá aí em breve a remodelação deste governo tartamudo. Depois… o futuro a Deus pertence, porém, os homens quando não vislumbram no agir qualquer evolução, costumam fazer (re)evoluções, que são aquelas aceleradas pela impaciência humana….

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