Mas afinal o que é uma “smart city”?

Colaborar, economizar, inovar, integrar, participar e simplificar. Estes serão os fundamentos que darão resposta ao meio envolvente, à boa governança, à mobilidade, à prosperidade, ao crescimento da população (ou seu envelhecimento).

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  • 15:42 | Domingo, 16 de Maio de 2021
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Muito se tem falado em “smarts cities” desde que o presidente norte americano Bil Clinton trouxe à ribalta o conceito, em 2005, baseado talvez nas teorias do francês Gabriel Dupuy, divulgadas no início da década de 90 e, fundamentalmente centradas nas redes de transporte e de comunicação e na sua concreta relação com o urbanismo e a organização do território.

Nos tempos que correm, 30 anos são uma eternidade e o conceito evoluiu, assim como as tecnologias evoluíram, para uma utilização plena das TIC no sentido de melhorar a qualidade dos serviços urbanos (nas megapolis tantas vezes descontrolados) e visando reduzir os seus custos, propondo as cybercidades e as comunidades electrónicas, com os seus captores electrónicos de recepção de dados, para a partir deles fornecer informações, permitindo gerir com eficácia os recursos e os seus activos.

Este processo, para ter êxito, pressupõe uma interacção com os cidadãos por forma a compulsar dados, tratá-los e analisá-los para vigiar e gerir os sistemas de circulação e de transporte, as centrais eléctricas, as redes de água, a gestão dos detritos, os sistemas de informação, as escolas, os hospitais e a grande maioria dos serviços públicos.


E aqui surge a dúvida: as cybercidades podem levar a manipulação e a vigilância dos cidadãos a quais extremos?

Numa era tão intensamente liberal e de valorização da liberdade humana como alfa e ómega social, surge o conceito de fonte de autoridade a descair do ser humano para os algoritmos, ou Big Data, a pôr em causa a liberdade individual.

A bioquímica, ao analisar os sentimentos, conclui que tudo se baseia em cálculos. O estudo dos algoritmos bioquímicos apurados ao fim de milhões de anos de processo evolutivo, gera actualmente uma base de dados quase infinita. É a vez dos biólogos descobrirem quase tudo acerca do corpo humano, mormente a nível do cérebro, e dos cientistas informáticos processarem os dados a velocidades maiores que a supersónica. Nos tempos do devir próximo, cada vez mais se recorrerá aos algoritmos para que decidam por nós, para que nos impeçam de falhar e de tomar as “más decisões”, mas sem nos manipularem, pois os algoritmos não têm consciência. Só os homens que os manipulam…

Hoje sabemos que quem for detentor de informação é senhor de uma ferramenta (ou deverei chamar-lhe arma?) poderosíssima. O mesmo para o conhecimento, passado o tempo em que a matéria-prima era riqueza, hoje amplamente suplantada pela matéria-cinzenta.

 

 

Estes dados ficarão na posse de uma elite? Como por exemplo, a Google que cada dia acumula “mega teras” de informação acerca de todos nós, tornando-nos não no seu cliente, mas sim no seu produto. É a religião dos dados ou Dataísmo.

Tudo isto põe também em causa o conceito de poder como até aqui o encaramos. O poder que no seu conceito tradicional e mesmo se assente num processo democrático (que pode desaparecer) não tem a capacidade de acompanhar o feerismo tecnológico. Por isso, também, ideia de que os governos da actualidade, se ainda gerem os países, já não os lideram. Liderança essa restrita a um grupo de multibilionários que gerem cripticamente os destinos do planeta. E isto não é já uma teoria cabalística e de conspiração …

Voltando às “smarts cities”, o seu fundamento e verdade reside na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Esta é a sua faceta “bondosa”, na qual devemos acreditar para não sermos ultrapassados pela tecnologia e novos modus vivendi.

 

 

As cidades devem adaptar-se à realidade e desejos dos cidadãos e serem mais eficazes. Para isso têm que se apoiar sobre um ecossistema de objectos e de serviços. No fundo um novo modo de gestão que incluirá todas as infraestruturas públicas, desde a domótica aos mobiliários e edifícios urbanos, até às redes de telecomunicações, gás, água, electricidade, passando pelos serviços públicos, vias de acesso, viaturas inteligentes, e as chamadas “mobilidades doces”, pedestres, ciclísticas, etc., sem esquecer os e-serviços e as e-administrações.

 

 

Naturalmente que uma cidade inteligente tem as suas especificidades, devendo cada cidade definir a sua própria visão urbana.

Zero carbono, conectada, eficiente, resiliente… estes serão alguns dos atributos.

Colaborar, economizar, inovar, integrar, participar e simplificar. Estes serão os fundamentos que darão resposta ao meio envolvente, à boa governança, à mobilidade, à prosperidade, ao crescimento da população (ou seu envelhecimento).

Hoje, a cidade inteligente deve ter uma administração descentralizada, em rede e na partilha de dados e projectos visando a eficácia dos serviços, que só o serão se centrados nos utilizadores e criando uma economia de escala. Deve pensar-se num modo duradoiro e para isso é imperioso economizar a energia, a água e as matérias primas, numa óptica de prosperidade e de redução das emissões poluentes.

A cidade inteligente deve estimular nos cidadãos, nas empresas, na administração, a ideia de criação de novos modos de organização, de partiha, de comunicção e de produção.

Deve ser inclusiva não deixando ninguém de lado neste processo, reduzindo as facturas sociais, as da educação, da saúde, da segurança, etc. Deve ser participativa com todos os seus habitantes, projectos e empresas e fundar nessa participação activa a chave da boa governança.

Deve simplificar e sem esquecer o seu passado, aprender com ele e implementar regulamentações produtivas e simples. O cidadão tem que as compreender, que as aceitar e que as respeitar, vendo nelas uma preciosa ferramenta adjuvante da sua qualidade de vida.

Tudo deve, pois, ser “smart”. A economia, a governança, o meio envolvente, a mobilidade, a população, as condições de vida.

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