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Madres d’espanto

A Ti Adozinda vive só. É “mulher de virtude”, como chamam por lá às dotadas para o sobrenatural. Trata de subir barrigas a grávidas, da espinhela caída, do mau-olhado e do augúrio negocial.

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      • 11:44 | Sábado, 31 de Outubro de 2020
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      A meio da semana fui a xxxxxxxx. À saída do cemitério encontrei a Ti Adozinda (nome fictício). Conheço-o há algumas dezenas de anos. Enviuvou muito cedo e ficou com dois filhos nos braços: o Zé e o Luís.
      O primeiro morreu devastado pelo álcool, o segundo, que ainda foi meu aluno, enforcou-se por angústia.

      A Ti Lucinda vive só. É “mulher de virtude”, como chamam por lá às dotadas para o sobrenatural. Trata de subir barrigas a grávidas, da espinhela caída, do mau-olhado e do augúrio negocial.

      Tinha ido lavar e florir as suas campas.


      Uma moira de trabalho e uma bem-quista da desgraça, toda de negro como sempre a vi, tez trigueira, olho claro e sorriso rasgado a mostrar a dentadura nova que a velhice lhe trouxera…

      Se me lembro, só vi a dor a dilacerar aquele rosto no velório dos filhos…

      A natureza tem destas madres d’espanto e irrefragável força.
      Poderoso o abraço que me deu.

      Vieram-me as lágrimas aos olhos por este exemplo de Mulher.
      E não me envergonhei…

      (do meu arquivo)

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      Publicado em Editorial