Gato por lebre?

  Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança: Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. (…) Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”     A crise na imprensa de papel tem servido de mote à engenhosidade de muito “jornaleiro”. O recuo da venda em banca no […]

  • 9:31 | Domingo, 31 de Agosto de 2014
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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

(…)


Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”

 
 

A crise na imprensa de papel tem servido de mote à engenhosidade de muito “jornaleiro”.

O recuo da venda em banca no sector da imprensa escrita tem dado azo a imaginosos expedientes visando induzir à curiosidade, ao desejo e à compra. No “charivari do métier” os artifícios são variados, mas o mais comum consiste em trazer grandes títulos à 1ª página, que depois de espremidos, se vem a constatar serem parcos de sumo. Ruído, puro e duro. Mas com pouca inocência.


Também é trivial a técnica de alguns arrancarem de “frente” com facas, pistolas, cuecas, sangue & mortes.

Ou então, com especiosa intenção, são os “gros titres” invocados, para e no conteúdo da notícia, imaculadamente inócua, se proceder ao contrário do anunciado em parangonas. A lixívia a actuar…

Há dias, como mero exemplo, um periódico trazia na “Um” título chamativo sobre determinada entidade alvo de investigação e suspeita. A técnica visual consistia em referir o nome da instituição em caracteres pequenos; em bold, sublinhado e grandes caracteres o que estava a ser investigado; finalmente, por baixo, em caracteres intermédios, o nome dos eventos sob suspeita. Um conjunto de “nuances” admissível como estratégia gráfica.

Porém, o leitor mais sôfrego quando chegou ao corpo da notícia, perplexo constatou que esta só servia para falar da naturalidade da denúncia e se perceber que está tudo bem, regularizado, positivo e sem nada a esconder, podendo tratar-se de motivações políticas… Ora chiça!

Será que de uma cajadada se haviam morto três coelhos? Afagado um dos clientes da casa, antecipado /esvaziado uma “não-notícia” e aliciado com um ilusório truque o putativo leitor?

Para os pregoeiros-medalhados da ética, esta ter-se-á alcandorado ao serviço do recém-virtuoso vale-tudo? Ou os tempos mudaram, mudaram-se as “vontades” e o esquema noticioso sujeitou-se à moral do pão-nosso-de-cada-dia?

Antes o fait-divers da “faca na liga/presspipole”… e títulos inequívocos, do género:

“Atropelado enquanto dormia a sesta”; “Morto encontrado sem vida”; “Furou um olho com uma agulha de tricot”; “Engasgou-se com um tremoço”; “A mayonnaise estava estragada”; “Lili Lálá estreou atrevido monokini”; “Os chupa-chupas tinham pimenta”; “Ardeu-lhe o colchão por excesso de calor”; “A Vanessa é surda-muda mas fala e ouve perfeitamente”; “Esfaqueou o padre na sacristia”; “Jéssica Tânia, a top-model, saiu do mar toda molhada”; “O canário do empresário João Pantaleão voou da gaiola por falta de alpista”…

 

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