Galamba versus Pinheiro

E afinal, entre tanta lana caprina, que mais-valia se obterá da cabal(?) dilucidação deste incidente? Que ganhará o país? Que lucrarão os portugueses? Nada, nos parece.

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  • 10:42 | Quinta-feira, 18 de Maio de 2023
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O avassalador episódio da exoneração do adjunto do ministro das Infraestruturas, Frederico Pinheiro, do invocado “roubo” de um computador, dos desaparecidos-aparecidos documentos classificados sobre a TAP, das ameaças de agressão e de agressões, com o SIS, a PSP e a PJ, como figurantes, em pano de fundo, tiveram ontem horas de audição na CPI, onde foram ouvidos e interpelados o citado adjunto e a chefe de gabinete, Maria Eugénia Correia Cabaço.

As duas audições seguidas e com um brevíssimo intervalo, prenderam um imenso público ao ecrã, que seguiu atentamente este “match” de bate-bola, a ver quem dizia a verdade (?) e marcava mais pontos.

Hoje, teremos a audiência com o ministro Galamba, que terá a oportunidade de, também, relatar a sua verdade.


Em concreto, são plurais as verdades das mesmas ocorrências, o que determina que numa das partes, pela disparidade factual, existam muitas mentiras. O sim-não-nim assemelha-se, na sua toada fúnebre, ao velho sino da minha aldeia…

No fundo, um “fait-divers” erigido em acontecimento nacional que está a estremecer as abulias sanguíneas dos telespectadores e a fazer o gáudio da comunicação nacional, que lhe confere honras de transmissão directa de horas a fio, entremeadas pelos comentários das “cabeças pensantes”, ou “opinion makers” da Nação.

Vão longe os tempos da telenovela brasileira “Gabriela, Cravo e Canela”, que à hora da transmissão fazia parar literalmente o país, emocionado com as aventuras e desventuras da lasciva mulata. Porém, esta folhetinesca sucessão de factos, com a pimenta ajuntada pelo Presidente da República e a água na fervura acrescentada pelo primeiro-Ministro, fará desta 4ª feira à tarde um quase análogo sucesso de audiências, num apurado cozinhado final, pelo qual milhões de portugueses já salivam.

 

 

E afinal, entre tanta lana caprina, que mais-valia se obterá da cabal(?) dilucidação deste incidente? Que ganhará o país? Que lucrarão os portugueses? Nada, nos parece.

Enquanto assistimos a este histérico “circo” esquecemos completamente aquilo que é capital, como por exemplo, os desmandos de Miss Lagarde, do BCE, que nos quer levar a todos à insolvência, para, a pretexto da descida da inflação, cevar abundantemente a cúmplice banca; a seca que se anuncia e vai trazer-nos um estio de inferno; os crimes de especulação em quase todos os sectores, com principal incidência no dos bens de primeira necessidade, a engordar alarvemente as grandes superfícies e a minguar a bolsa dos consumidores; os problemas na Saúde e na Educação; a corrupção que grassa no futebol e nalgumas autarquias; a falta de habitação nos centros urbanos, também nas mãos de impiedosos especuladores; a continuação da guerra na Ucrânia com as consequências globais daí advenientes; o possível “crash” da banca norte-americana com a sua capilaridade mundial; a sucessiva perda do poder de compra de todos nós; o aumento das desigualdades; a exclusão, etc.

Estes e outros mais assuntos preponderantes não colhem a atenção e a preferência dos portugueses, que antes os ignoram em detrimento da “capa e espada”.

Este acriticismo, embalado pelos “talk shows” do Goucha e da Cristina, ignorando o essencial e, focando-se no acessório, concede às pardas existências de todos nós uma acrescida e afogueada emoção.

Quem vai, afinal, ganhar, Galamba ou Pinheiro?

Esta tarde, na sua TV…

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