Esta cruel “peste”

Mudámos hábitos, comportamentos, atitudes, posturas… No quotidiano perdemos a presença de muitos dos nossos afectos. Vemo-nos em “modo web”. Proibimos os gestos simples e com sentido, o “passou-bem”, o abraço, o beijo, a proximidade com o outro. Aprendemos a desconfiar. A recear. A temer. Desinfectamo-nos hora a hora. Perdemos o social, a convivialidade esfumou-se.

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  • 13:22 | Quarta-feira, 03 de Março de 2021
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A “peste” chegou a Portugal faz hoje mais ou menos um ano. Até agora, contabilizados houve 805 647 casos e 16 380 óbitos. A nível mundial e ao que se julga saber, houve 114 795 908 casos e 2 550 334 óbitos.

Para além destes números causados pela “gripezita”, no dizer insano de Trump e Bolsonaro, há que lhe juntar os danos colaterais provocados. Na Saúde, na Economia… e nas vidas profissionais e pessoais de cada um, os danos e os prejuízos são inquantificáveis.

E porém, perante este cenário trágico, quão positivo é ainda aqui estar a escrever estas linhas…


Quem nos diria, em início de 2020, que num espaço de escassos meses a nossa vida mudaria tão radicalmente?

Temos a tendência de ver as tragédias à distância, olhar por exemplo para a IIª Guerra Mundial e ler números como 6, 7 ou 8 dezenas de milhões de mortos, 6 milhões de judeus assassinados na Europa… e contudo, esta fria estatísticas, se nos horroriza pela desmesura, fica reservada ao papel, às fotografias, ao cinema. Não a vivemos. Foi fora do nosso tempo vivencial.

Quem diria que, como naqueles filmes de premonitória ficção, passaríamos a andar todos de máscara no rosto? Que a palavra e o seu conceito, confinamento, já não era um kafkiano pesadelo, mas sim a realidade de milhões? Quem ousaria prever uma mudança desta grau e amplitude?

E, não obstante, a vida continua e a resiliência humana, em maior ou menor grau, com maior ou menor dificuldade, soube enfrentar a desgraça, combatê-la, de algum modo ultrapassá-la.

Mudámos hábitos, comportamentos, atitudes, posturas… No quotidiano perdemos a presença de muitos dos nossos afectos. Vemo-nos em “modo web”. Proibimos os gestos simples e com sentido, o “passou-bem”, o abraço, o beijo, a proximidade com o outro. Aprendemos a desconfiar. A recear. A temer. Desinfectamo-nos hora a hora. Perdemos o social, a convivialidade esfumou-se. Andámos um ano, obcecados, a ver diariamente a evolução da pandemia. A ouvir tretas e labietas de milhares de peritos que nem sabiam que o eram, mas, opiniosos, como os treinadores de futebol, não quiseram deixar de nos mostrar a sua verdade, o seu ângulo da “coisa”, a perspectiva do “assim é que é”. Tivemos aqueles que na Saúde, com abnegação e estoicismo, lutaram não por eles próprios mas pelos outros. Tivemos políticos que, na aprendizagem de cada dia desta tão nova realidade, souberam encontrar as respostas que nos trouxeram até ao dia de hoje. Criticados por uns e outros, por vezes agressivamente vilipendiados pelos “treinadores de bancada”, pela oposição, mantiveram-se firmes ao leme da calamidade e souberam responder-lhe.

Tudo nesta realidade é novo e nos choca e chocou, mas Senhor… mereceriam os idosos ser os “judeus deste holocausto”?

Vamos ser optimistas e ter esperança nos dias a vir. Na ciência a actuar, na lucidez da Humanidade, no bom-senso de todos. Que no final deste ano, este pesadelo por todos nós vivido se transforme num passado a servir de exemplo para todos os seres humanos que lhe sobreviveram.

 

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Publicado em Editorial