Arrotar riqueza

A Alemanha tem qualidades. É um povo capaz de fazer grandes males, pagar por eles e reerguer-se das cinzas da devastação originada. Nos últimos 100 anos gerou dois hiper conflitos mundiais que provocaram milhões de mortos, arrasaram países como a Inglaterra, a França, a Itália, a Rússia, o Japão, et all. Sempre em pé, ressuscita […]

  • 11:41 | Quarta-feira, 20 de Maio de 2015
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A Alemanha tem qualidades. É um povo capaz de fazer grandes males, pagar por eles e reerguer-se das cinzas da devastação originada. Nos últimos 100 anos gerou dois hiper conflitos mundiais que provocaram milhões de mortos, arrasaram países como a Inglaterra, a França, a Itália, a Rússia, o Japão, et all. Sempre em pé, ressuscita como Fénix e, desde o terrível Acordo de Versalhes ao amigável Plano Marshall, cria as sinergias para se re-potenciar.
Em 2015, a Alemanha arrota riqueza, a usura e a agiotagem que pretextou Hitler para o genocídio judaico e dita as leis numa Europa pífia, protege os seus bancos e a sua riqueza como uma mãe-galinha, manda na UE e fez de Durão Barroso seu serviçal aio, dita regras ao FMI e ao BCE, traz pela trela Hollande e mais uns pet boys, como Coelho e Rajoy.
Nunca engoliu a subida ao poder do Syrisa, na Grécia. Nunca aceitou que alguém pusesse em causa as suas directrizes asfixiantes, receando o efeito bola de neve.
A Grécia tem dinheiro para 10 dias. Findo esse prazo entra em colapso. A sua saída do euro perfilha-se como uma de duas probabilidades. A outra é ajoelharem-se perante a kaiser Merkl. Se optarem pela primeira hipótese enfrentarão provações temíveis — há quem avente a somalização ou sudanização da pátria da democracia — mas poderá entrever a leste a luz que se apagou a ocidente. E a partir daí uma miríade de perspectivas se abrirá… Optando pela segunda hipótese, cerviz quebrada, Tsípras e o partido que encabeça são extintos, porque lhes é exigido o incumprimento total — das realistas ou irrealistas promessas eleitorais — logo, a perda total do rosto, credibilidade política e razão de existir. A Alemanha desejaria na Grécia um governo “manso”, como na parte mais ocidental da Europa. A Alemanha gosta de cordeiros. Balindo alegremente ao som da avena da pastora. Os cordeiros que balem, talvez não tenham ainda percebido que a seguir à Grécia, vergada ou degredada, mais vergados e degredados ficarão. E continuarão balindo para a ara sacrificial.
A Alemanha parece gostar de sangue. É belicosa. Tem o excelente e o péssimo. Já provou por duas vezes num século as suas mais íntimas tendências imperialistas. Já não pela força das armas mas sim pela força do dinheiro, pretende dominar a velha Europa. César também. Napoleão também. Hitler também. Qual foi o resultado?
A austeridade que mandou impôr aos países periféricos, a sua “esqueletização” é essencial para a sua crescente obesidade. Na fábula, o sapo não rebentou de tão inchado?
A Inglaterra, fiel e figadal oponente aos desígnios expansionistas germânicos, começa a política do “manguito”; por seu turno, colaboracionista — que vergonha!– a França abana a cauda, repartida entre um socialismo oco, um radicalismo lepenista, um sarkozismo tenebroso e um islamismo velado em ascenção. Portugal e a Espanha estão de cócoras e são Estados fictícios sem qualquer autonomia. Em Itália vai uma “salgalhada”. Os pequenos países ricos cobrem-se com uma redoma de aço fino…
A presidência europeia de Barroso foi um fracasso para a maioria dos países integrantes da UE. E agora, aparentemente sem ponta por onde se lhe pegue, que vai ser desta Europa unida com cola de 3ª qualidade? Razão tinha Saramago com a sua premonitória Jangada de Pedra, mas… ainda há quem leia literatura em Portugal?

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