Costuma dizer-se que alguns pais veem nos filhos a oportunidade de concretizar aquilo que não conseguiram alcançar na juventude. São os chamados “jogadores frustrados”, que projetam nos filhos os sonhos que não realizaram. Admito que essa realidade exista em casos pontuais, mas não me parece ser o principal problema. O verdadeiro desafio é outro: a dificuldade em ser pai de um atleta.
A maioria dos pais não está preparada para lidar com o turbilhão de emoções que o desporto acarreta: vitórias e derrotas, expetativas e frustrações, sonhos e desilusões. Não há manual que ensine a gerir tudo isto, e é nesse vazio que surge a insegurança. Muitos pais sentem-se perdidos perante a complexidade do desporto moderno e não sabem como apoiar corretamente os filhos.
É importante, contudo, não esquecer que a grande maioria dos pais se comporta de forma exemplar. São eles que sacrificam fins de semana e noites livres para levar os filhos a treinos e jogos, que torcem não só pelos seus, mas também pelo resto da equipa, que colaboram com os treinadores e organizam atividades para manter um ambiente saudável. Infelizmente, são quase sempre os poucos mais barulhentos e descontrolados a ganhar destaque, criando uma imagem injustamente negativa sobre todos os outros.
A pressão acresce com o impacto da comunicação social e das redes sociais. O mediatismo em torno de jovens estrelas, que atingem fama e contratos milionários muito cedo, alimenta a ideia de que o sucesso deve ser imediato. Muitos pais acabam por sentir que, se os filhos não estão no “caminho da elite” desde muito novos, algo está errado. Esta perceção é perigosa e, sobretudo, irreal.
Tal como os treinadores devem manter a calma durante os jogos para que os atletas possam concentrar-se, também os pais devem ser uma fonte de equilíbrio. Uma atitude ansiosa transmite-se rapidamente aos filhos, podendo transformar-se num peso difícil de carregar. Pelo contrário, se os pais incutirem calma e confiança, os filhos sentir-se-ão mais seguros, desenvolverão autoconfiança e terão maior capacidade para lidar com a pressão.
É importante também lembrar que o desporto não deve ser visto como a única via de realização pessoal. O desporto pode ser um caminho, mas não pode ser o único. O equilíbrio entre a vida desportiva e a vida pessoal é fundamental para o bem-estar do jovem. Apoiar os filhos no campo, mas também fora dele, é a melhor forma de ajudá-los a crescer, não apenas como atletas, mas sobretudo como pessoas.
No final, é isso que verdadeiramente conta: que os jovens sejam felizes e realizados, dentro ou fora do campo. O desporto deve ser uma escola de vida, e o papel dos pais, mais do que projetar sonhos, é garantir que os filhos têm a liberdade e a serenidade para viver os seus próprios.
Vitor Santos
Embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto