Quando o nome diz tudo

Se assim fosse não teríamos tantos idosos, a viverem na rua e a vasculharem os caixotes do lixo por um pouco de comida.

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  • 15:03 | Sexta-feira, 03 de Outubro de 2025
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Há uns tempos atrás, numa festa de aniversário algures na Bairrada, reencontrei-me com o meu passado de há trinta anos atrás.

Revi velhos amigos e recordámos juntos vivências e caminhadas por trilhos comuns. Foi um dia lindo! Mas o que marcou verdadeiramente o meu dia e provavelmente o de uma grande parte das pessoas que ali se encontravam foi a Preciosa. Todos conhecíamos as qualidades desta mulher. Uma lutadora, trabalhadora, meiga e uma mãe com letras maiúsculas. Não sabíamos era que a Preciosa neste momento era a mãe da sua mãe. Reparei que para onde ela se dirigisse a mãe a seguia como se fosse a sua sombra. Sentava-se ao seu colo e corria a sala do restaurante de mão dada com a filha que agora fazia de sua mãe. Soube por amigos comuns que a dona Maria dorme muito mal e que a meio da noite se dirige ao quarto da filha/mãe para a alertar que já é dia e que tem que se levantar. A Preciosa leva a sua mãe/filha de volta para o quarto e com afagos e carinhos, quem sabe se com uma canção de embalar consegue que ela durma mais um pouco.

Ao observar esta relação, pensei como o velho ditado “de velho se volta a menino” se aplica, aqui na perfeição. A Preciosa trata a sua velha mãe como se fosse uma menina que ela cuida com tanto carinho. A Preciosa arranja-lhe o lenço, limpa-a com o guardanapo, parte-lhe a carne, senta-a no colo, dá-lhe banho, afaga-lhe o cabelo, agasalha-a para que ela não apanhe um resfriado e pede desculpa por sair cedo da festa em homenagem ao marido, mas tem que ir pôr a menina a dormir porque o dia foi muito cansativo.

Perante a Preciosa sinto-me pequenina e penso que este mundo seria muito melhor se existissem muitas Preciosas.


Se assim fosse não teríamos tantos idosos, que vão passar o Natal sozinhos, para que egoisticamente, os seus familiares possam trocar presentes sem terem que ter por perto um doente, ou um velhinho menos oportuno!

Se assim fosse não teríamos tantos idosos, a queixarem-se de mais tratos físicos e psicológicos por parte dos familiares.

Se assim fosse não teríamos tantos idosos, a viverem na rua e a vasculharem os caixotes do lixo por um pouco de comida.

Se assim fosse não teríamos tantos idosos, a porem fim a uma vida que ficou vazia por tanto terem dado àqueles que depois os abandonam.

À Preciosa apenas posso dizer que é um diamante raro e que a beleza dos seus sentimentos brilhará para sempre e irá iluminar o neto que a sua filha carregava no ventre. Quero acreditar que seja esse neto que um dia lhe dará a mão!

 

Ondina Freixo

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