Hoje temos o Conselho de Ministros a reunir em Viseu. Provavelmente assim o determinou a consciência intranquila do primeiro-ministro que, em termos comunicacionais e em postura de estadista, tão sofrivelmente se comportou nos últimos dias.
Ardia o País e da boca de Luís Montenegro, em gozo de férias, nada se ouviu. Uma palavra de solidariedade era o mínimo que se podia esperar. Ela nunca chegou.
A toda a parte chegavam, sim, as imagens das festarolices dele e seus correligionários, na Festa do Pontal ou, alheado, a banhos na cálida praia do Ancão.
O que Montenegro e o seu galhofeiro staff não esperavam é que a comunicação social e o povo anónimo, nas redes sociais, lhe tivessem infligido tão ferina crítica e tão impiedoso quão merecido ataque.
Depois, provavelmente, irão todos à feira de S. Mateus comer enguias e farturas a convite dos anfitriões locais. Aos concelhos devastados não foram, com natural receio de enfarruscar as alvas camisas e de macular os luzidios sapatos. Compreende-se, os fatos Armani sujam-se muito e os sapatos Rossetti não são para calcorrear carreirais calcinados pelas inclementes chamas.
Com um povo cordato, que ontem, irado e sofrido rogava pragas “à pandilha de Lisboa”, e hoje emocionado, nos acolhedores braços ministeriais, chora a sua sentida e retida emoção, é quase seguro que se esqueça a “argolada” e, peito ancho de perdão, se olvidem as angústias, a dor, as perdas, o sofrimento e se reconciliem com a boa governança, que rege os destinos de todos nós e que, com a lábia de vendilhões de banha da cobra, vem mostrar a tardia contrição e fazer esquecer a impreparação e as falhas de todo um sistema que capitaneiam, indiferentes aos resultados catastróficos que dele tão devastadoramente surgiram.
Ao menos, que além das dúbias palavras e das ambíguas retóricas sejam capazes de abrir a mão aos euros do erário público, mitigando, não as mortes, mas os prejuízos materiais de milhões, não restaurando o património perdido, fauna e flora compreendidos, mas abrindo uma ténue via de esperança para o reiniciar de nova vida.