De taberna

O tratamento é de caserna e o vernáculo impera. Os saídos das catacumbas, deslumbrados com a sala das sessões, largam disparates e bolsam o discurso do ódio sobre os imigrantes, passando uma borracha sobre o que fomos, e somos, por todas as partes do mundo. É a desbunda, o arraial minhoto, um esparrame de maus fígados.

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  • 17:51 | Segunda-feira, 28 de Julho de 2025
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Às vezes, não é o que se diz, é o como se diz. O Chega usa e abusa de linguagem incontinente, inconveniente e embaraçosa. Desce o nível da conversa para degraus indignos de uma democracia, onde a liberdade e o contraditório devem ser regra, mas o respeito também. Os termos usados na Assembleia da República e em alguns debates televisivos são indecentemente desalinhados, e roçam a boçalidade.

Os legítimos representantes da nação não se podem entregar a disparates soezes e a preparos de indignidade. Os seus deputados esgadanham-se a ver quem corta a meta em primeiro lugar, na corrida das palavras vulgares.

Se meio mundo se compraz com o estilo, outro meio levanta muros contra a barbárie. É notório que a alguns, sem qualquer preparação, caiu no colo a bênção da eleição, o bilhete premiado da Casa da Sorte. Sem agudeza de espírito, nem freio na língua, desbroncam-se, com modos embotados, estalando o verniz da condição de deputados.

O tratamento é de caserna e o vernáculo impera. Os saídos das catacumbas, deslumbrados com a sala das sessões, largam disparates e bolsam o discurso do ódio sobre os imigrantes, passando uma borracha sobre o que fomos, e somos, por todas as partes do mundo. É a desbunda, o arraial minhoto, um esparrame de maus fígados. À falta de argumentos, vale tudo.


E com a complacência de um presidente da AR, mole e cansado, não talhado para a função, seguem descomandados, num caldeirão a ferver.

Podem ganhar votos, mas, no futuro, fazendo este caminho, ninguém ganha créditos políticos. Se meio mundo se compraz com o estilo, outro meio, cerrando fileiras, levanta muros contra a barbárie.

Para o caso de ainda não terem percebido, duas notas finais: – os votos que têm recebido, tão legítimos quanto os outros, são de protesto e não ideológicos; quando a desavença acabar, e se perceber o que verdadeiramente anima a turba, o bornal vai esvaziar e a bancada minguar; – há uma outra forma de se tornaram notados: às ideias, razoáveis ou pestíferas, juntarem os bons argumentos. Dá mais trabalho? Dá. Não é para todos? Não. Temos pena. Mas em nenhum momento deve valer a linguagem de taberna, que deixa nódoas e repugnância onde campeia.

Quanto antes, a política tem de voltar a ser um território de estadistas, de homens e mulheres de eleição, com visão, que rejeita os arrivistas e atira borda fora os oportunistas.

Cinquenta anos após Abril, não pode ser o salve-se quem puder. É tempo de civilizarem os debates, de modo a que possamos aprender algo de proveitoso com eles. Chega de lama na ventoinha.

Oxalá os banhos de Agosto façam bem às mentes assanhadas e o discurso venha menos sarnento.

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